Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O Arrudas desemboca no Mar Bático - continuação da linha do tempo

6 anos: A Sagrada Família

24 de fevereiro: 20º Congresso do PCUS. Khruschov ataca Stalin em informe secreto. É decepcionante como a falta de espaço obriga o redator a sintetizar um momento tão rico em seis palavrinhas tão insossas. “Khruschov (sem nenhum adjetivo) ataca (não diz se com ou sem razão) Stalin em informe secreto”. O tempo vai corroendo a carne e o sangue dos acontecimentos, até que não sobram mais do que uns ossinhos insignificantes. Para um historiador do futuro, que não tivesse outra fonte, seria como reconstituir um Tiranossauro a partir de um metacarpo. Não é o meu caso. Eu posso oferecer o prato original, na linguagem barroca, às vezes hiperbólica, mas sempre suculenta, que não se intimida com adjetivos e advérbios, do documento “50 anos de luta”, do Partido Bolchevique. Não consegui cortar uma citação tão extensa. Seria um crime. Daqui em diante, serei mais sucinto. Os destaques são meus.
“... forte é a pressão da ideologia burguesa sobre o Partido. O desenvolvimentismo vinha sendo difundido intensamente, circulando nas fileiras partidárias e até mesmo na direção nacional. Em meio a tal situação, o Partido toma conhecimento das teses do XX Congresso do PCUS e dos ataques infames de Khruschev a Stálin.
Naquele Congresso, o renegado Nikita Khruschev e sua camarilha rejeitam princípios fundamentais do marxismo-leninismo e iniciam uma luta aberta contra a ditadura do proletariado. Propugnam o caminho burguês, socialdemocrata, da evolução pacífica e, sob a alegação de combate ao culto à personalidade de Stálin, se lançam contra a doutrina da classe operária. Atacam insidiosamente os partidos comunistas e os marxista-leninistas de todo o mundo. Usando criminosamente o prestígio e a autoridade do Partido de Lênin e Stálin, abrem as comportas do       oportunismo e da podridão contrarrevolucionária. Os cães-de-fila da reação  e todo o rebotalho do movimento operário internacional criam alma nova e       combatem raivosamente os partidos leninistas. Os revisionistas soviéticos       causam danos consideráveis ao comunismo internacional.
Também no Brasil, as distorções e calúnias do XX Congresso do PCUS acarretam sérios prejuízos. Manifesta-se no Partido um surto revisionista de grandes proporções. O denominado combate ao culto à personalidade serve de veículo para a difusão no Comitê Central e nas fileiras partidárias de teorias antimarxistas e antileninistas que negam o Partido, enxovalham seu passado de lutas, contrariam o princípio da hegemonia do proletariado, repudiam a revolução.
O Comitê Central fica perplexo e desarvorado porque as teses errôneas têm       sua origem no PCUS, cuja opinião sempre mereceu respeito dos comunistas       brasileiros. Encontra, por isso, dificuldades para combater os elementos       antipartidários que se organizam num grupo de cunho revisionista e       liquidacionista, à frente do qual é colocado Agildo Barata. Esse grupo       assalta os órgãos de imprensa do Partido e, por conta própria, abre       através deles, um debate orientado contra a vanguarda do proletariado e       seus dirigentes e contra os princípios básicos do marxismo-leninismo.
Contudo, firmando-se nos postulados marxistas, o Comitê Central consegue       derrotá-lo. Agildo Barata é expulso do Partido. Mas vários membros da       direção nacional continuam defendendo opiniões revisionistas, entre os       quais se salientam Carlos Marighella, Giocondo Dias, Mário Alves,       Astrojildo Pereira, Orestes Timbaúva, João Massena, Jacob Gorender,       Zuleika Alembert. Persiste, assim, o surto revisionista que, em 1957, toma       novo impulso com a adesão de Prestes àquelas opiniões e com o afastamento       de alguns camaradas do Presidium do Comitê Central, entre os quais João       Amazonas e Maurício Grabois. A orientação khruschevista é adotada       oficialmente pelo Partido e o Programa de 1954 posto inteiramente de lado.
O caminho revolucionário do Partido é, uma vez mais, truncado. Vencem as      concepções reformistas.”
Como diria aquele filósofo, o revisionismo foi indo, foi indo e acabou fondo.

29 de fevereiro: Acaba, em rotundo fracasso, a revolta de Jacareacanga, Pará: dois oficiais direitistas da Aeronáutica desviam avião em ensaio de golpe.
20 de março: Independência da Tunísia, ex-colônia da França.     
28 de abril: Dissolução do Cominform, a partir da guinada à direita de Nikita Khruschev.
31 de maio: Rebelião estudantil-popular chefiada pela UNE contra o aumento da passagem de bonde. Quebra-quebra, ocupação do Rio pelo Exército, 1 morto. Após 7 dias JK chama ao Catete Marcos Heusi, futuro presidente da UNE, para negociar uma solução.
10 de julho: Coalisão de comunistas e esquerda católica (futura AP) resgata a UNE de 5 anos de predomínio direitista.                                            .
26 de julho: O Egito de Nasser nacionaliza o Canal de Suez; a Inglaterra, França e EUA reagem com uma agressão militar. 
14 de agosto: Morre em Berlim Bertold Brecht, 58 anos, poeta, comunista, tido como o maior autor teatral do nosso século. Sua obra terá notável difusão nos movimentos populares do Brasil.     "Quem luta pelo comunismo tem de poder lutar e não lutar; dizer a verdade e não dizer a verdade; prestar serviços e negar serviços; manter a palavra e não cumprir a palavra; enfrentar o perigo e evitar o perigo; identificar-se e não se identificar. Quem luta pelo comunismo tem de todas as virtudes apenas uma: a de lutar pelo comunismo." B. Brecht.
19 de setembro: Lei 2.874 autoriza JK a mudar a capital para Brasília. A UDN se opõe.
19 de setembro: Amílcar Cabral funda o PAIGC, que dirigirá a guerrilha de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
21 de setembro: O patriota Rigoberto Pérez mata o General Somoza. O filho deste, Luís Somoza, assume como ditador da Nicarágua.
21 de outubro: Golpe militar em Honduras.
22 de outubro: Ben Bella e outros líderes da FLN argelina são presos pela autoridade colonial francesa.
23 de outubro: tropas russas invadem a Hungria.
5 de novembro: Tropas anglo-francesas ocupam parte do Egito durante a Guerra do Canal de Suez.
18 de novembro: Independência do Marrocos, antes colônia da França.
2 de dezembro: Desembarque do Granma. Fidel volta a Cuba com 82 militantes para iniciar a guerrilha de Sierra Maestra.
18 de dezembro: Os guerrilheiros cubanos que sobrevivem ao desembarque do Granma reúnem-se, na Sierra Maestra. A serra será o primeiro núcleo da revolução vitoriosa. Os sobreviventes eram doze. Em três anos tomaram o poder. Esta é a história oficial.

         Ano conturbado. Eu havia mudado para a casa da Rua Cônego Floriano, no Bairro da Graça, perto da Sagrada Família. Junto com Altino, moravam sua irmã Samira, seu irmão Josafá e um sobrinho, Eustáquio, mais novo do que eu. As várias canoas furadas, em que mais tarde eu embarcaria, já estavam fazendo água. Ou melhor, se desfazendo como o bote do sapo Toaddy. Minha leitura é a Cartilha de Lili. Altino era muito apegado à sua família, à pequena cidade do interior onde nasceu e aos seus costumes.  Eu resistia a pedir a benção e beijar a sua mão, coisa completamente desusada na minha família materna, mas acabava cedendo. O meu movimento de libertação ainda não existe, ele só vai começa na Idade do Contorno.

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