6 anos: A Sagrada Família
24 de fevereiro: 20º Congresso do PCUS. Khruschov ataca Stalin em informe
secreto. É decepcionante como a falta de
espaço obriga o redator a sintetizar um momento tão rico em seis palavrinhas
tão insossas. “Khruschov (sem nenhum adjetivo) ataca (não diz se com ou sem
razão) Stalin em informe secreto”. O tempo vai corroendo a carne e o sangue dos
acontecimentos, até que não sobram mais do que uns ossinhos insignificantes. Para
um historiador do futuro, que não tivesse outra fonte, seria como reconstituir
um Tiranossauro a partir de um metacarpo. Não é o meu caso. Eu posso oferecer o
prato original, na linguagem barroca, às vezes hiperbólica, mas sempre
suculenta, que não se intimida com adjetivos e advérbios, do documento “50 anos
de luta”, do Partido Bolchevique. Não consegui cortar uma citação tão extensa.
Seria um crime. Daqui em diante, serei mais sucinto. Os destaques são meus.
“... forte
é a pressão da ideologia burguesa sobre o Partido. O desenvolvimentismo
vinha sendo difundido intensamente, circulando nas fileiras partidárias e até
mesmo na direção nacional. Em meio a tal situação, o Partido toma conhecimento
das teses do XX Congresso do PCUS e dos ataques infames de Khruschev a
Stálin.
Naquele
Congresso, o renegado Nikita Khruschev e sua camarilha rejeitam princípios
fundamentais do marxismo-leninismo e iniciam uma luta aberta contra a
ditadura do proletariado. Propugnam o caminho burguês, socialdemocrata, da
evolução pacífica e, sob a alegação de combate ao culto à personalidade de
Stálin, se lançam contra a doutrina da classe operária. Atacam insidiosamente
os partidos comunistas e os marxista-leninistas de todo o mundo. Usando
criminosamente o prestígio e a autoridade do Partido de Lênin e Stálin, abrem
as comportas do oportunismo e da
podridão contrarrevolucionária. Os cães-de-fila da reação e todo o rebotalho do movimento operário
internacional criam alma nova e
combatem raivosamente os partidos leninistas. Os revisionistas
soviéticos causam danos
consideráveis ao comunismo internacional.
Também
no Brasil, as distorções e calúnias do XX Congresso do PCUS acarretam sérios
prejuízos. Manifesta-se no Partido um surto revisionista de grandes proporções.
O denominado combate ao culto à personalidade serve de veículo para a difusão
no Comitê Central e nas fileiras partidárias de teorias antimarxistas e
antileninistas que negam o Partido, enxovalham seu passado de lutas,
contrariam o princípio da hegemonia do proletariado, repudiam a revolução.
O
Comitê Central fica perplexo e desarvorado porque as teses errôneas têm sua origem no PCUS, cuja opinião sempre
mereceu respeito dos comunistas
brasileiros. Encontra, por isso, dificuldades para combater os
elementos antipartidários que se
organizam num grupo de cunho revisionista e liquidacionista, à frente do qual é
colocado Agildo Barata. Esse grupo
assalta os órgãos de imprensa do Partido e, por conta própria, abre através deles, um debate orientado
contra a vanguarda do proletariado e
seus dirigentes e contra os princípios básicos do marxismo-leninismo.
Contudo,
firmando-se nos postulados marxistas, o Comitê Central consegue derrotá-lo. Agildo Barata é expulso do Partido.
Mas vários membros da direção
nacional continuam defendendo opiniões revisionistas, entre os quais se salientam Carlos Marighella,
Giocondo Dias, Mário Alves,
Astrojildo Pereira, Orestes Timbaúva, João Massena, Jacob Gorender, Zuleika Alembert. Persiste, assim, o
surto revisionista que, em 1957, toma novo impulso com a adesão de Prestes
àquelas opiniões e com o afastamento
de alguns camaradas do Presidium do Comitê Central, entre os quais
João Amazonas e Maurício Grabois. A
orientação khruschevista é adotada
oficialmente pelo Partido e o Programa de 1954 posto inteiramente de
lado.
O caminho
revolucionário do Partido é, uma vez mais, truncado. Vencem as concepções reformistas.”
Como
diria aquele filósofo, o revisionismo foi indo, foi indo e acabou fondo.
29 de fevereiro: Acaba, em rotundo fracasso, a revolta de Jacareacanga, Pará:
dois oficiais direitistas da Aeronáutica desviam avião em ensaio de golpe.
20 de março: Independência da Tunísia, ex-colônia da França.
28 de abril: Dissolução do Cominform, a partir da guinada à direita de
Nikita Khruschev.
31 de maio: Rebelião estudantil-popular chefiada pela UNE contra o
aumento da passagem de bonde. Quebra-quebra, ocupação do Rio pelo Exército, 1
morto. Após 7 dias JK chama ao Catete Marcos Heusi, futuro presidente da UNE,
para negociar uma solução.
10 de julho: Coalisão de comunistas e esquerda católica (futura AP)
resgata a UNE de 5 anos de predomínio direitista. .
26 de julho: O Egito de Nasser nacionaliza o Canal de Suez; a Inglaterra, França e EUA reagem com uma agressão militar.
26 de julho: O Egito de Nasser nacionaliza o Canal de Suez; a Inglaterra, França e EUA reagem com uma agressão militar.
14 de agosto: Morre em Berlim Bertold Brecht, 58 anos, poeta, comunista,
tido como o maior autor teatral do nosso século. Sua obra terá notável difusão
nos movimentos populares do Brasil. "Quem luta pelo comunismo tem de poder lutar e
não lutar; dizer a verdade e não dizer a verdade; prestar serviços e negar
serviços; manter a palavra e não cumprir a palavra; enfrentar o perigo e evitar
o perigo; identificar-se e não se identificar. Quem luta pelo comunismo tem de
todas as virtudes apenas uma: a de lutar pelo comunismo." B. Brecht.
19 de setembro: Lei 2.874 autoriza JK a mudar a capital para Brasília. A
UDN se opõe.
19 de setembro: Amílcar Cabral funda o PAIGC, que dirigirá a guerrilha de
libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
21 de setembro: O patriota Rigoberto Pérez mata o General Somoza. O filho
deste, Luís Somoza, assume como ditador da Nicarágua.
21 de outubro: Golpe militar em Honduras.
22 de outubro: Ben Bella e outros líderes da FLN argelina são
presos pela autoridade colonial francesa.
23 de outubro: tropas russas invadem a Hungria.
5 de novembro: Tropas anglo-francesas ocupam parte do Egito durante a
Guerra do Canal de Suez.
18 de novembro: Independência do Marrocos, antes colônia da França.
2 de dezembro: Desembarque do Granma. Fidel volta a Cuba com 82 militantes
para iniciar a guerrilha de Sierra Maestra.
18 de dezembro: Os guerrilheiros cubanos que sobrevivem ao desembarque do
Granma reúnem-se, na Sierra Maestra. A serra será o primeiro núcleo da
revolução vitoriosa. Os sobreviventes
eram doze. Em três anos tomaram o poder. Esta é a história oficial.
Ano conturbado.
Eu havia mudado para a casa da Rua Cônego Floriano, no Bairro da Graça, perto
da Sagrada Família. Junto com Altino, moravam sua irmã Samira, seu irmão Josafá
e um sobrinho, Eustáquio, mais novo do que eu. As várias canoas furadas, em que
mais tarde eu embarcaria, já estavam fazendo água. Ou melhor, se desfazendo
como o bote do sapo Toaddy. Minha leitura é a Cartilha de Lili. Altino era
muito apegado à sua família, à pequena cidade do interior onde nasceu e aos
seus costumes. Eu resistia a pedir a
benção e beijar a sua mão, coisa completamente desusada na minha família
materna, mas acabava cedendo. O meu movimento de libertação ainda não existe,
ele só vai começa na Idade do Contorno.
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