No meio de uma arrumação, descobri essa poesia perdida nas gavetas eletrônicas. Há um encosto de Drummond mal dissimulado (que ele me perdoe), mas me pareceu que é um bom retrato da mediocridade atual.
O gato pardo
Nasci pardo
Nem claro, nem escuro
Antes obscuro
Não carrego o fardo do homem branco
Nem a canga do escravo
Brando é meu fado
Brando é meu fado
Sem a ginga do negro
Sem o enfado do branco
Só a pinga nos concilia
Tenho duas mãos esquerdas
E muito me preocupa o mundo
Tenho duas mãos esquerdas
E muito me preocupa o mundo
Mas estou cansado
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto engolir sapos,
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto engolir sapos,
de tanto afogar as mágoas
Me dá uma preguiça...
Esquerda
Direita
Meia volta, volver
Vamos aos trancos e barrancos
Negros pardos e brancosVamos aos trancos e barrancos
Nenhum comentário:
Postar um comentário