Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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quarta-feira, 22 de junho de 2016

O Arrudas desemboca no Mar Báltico - linha do tempo

A teia de aranha

Graças aos recursos do Instituto, consegui estabelecer os pontos onde a história da Revolução se conecta à minha história pessoal. A linha de tempo elaborada pelo Partido Bolchevique, no suplemento especial do Bandeira Vermelha, foi muito útil. Podemos dizer que ela forneceu os fios de sustentação, o pano de fundo, a base material que permitiu fazer essa conexão. Os comentários em negrito são meus. Algumas vezes, coloquei em contraposição textos do Partido. Tem sido revelador reler estes textos que, em determinada época, eu grifei, esquematizei e resenhei, esmiuçando cada parágrafo, preparando-me conscienciosamente para as discussões internas.



 4 Anos: A espingarda de rolha
5 de fevereiro: A guerrilha vietnamita começa o cerco da estratégica fortificação francesa de Diem Bien-Phu.
8 de fevereiro: 82 coronéis do Exército escrevem ao Ministro da Guerra contra o aumento do salário mínimo. Terminam derrubando o Ministro do Trabalho, João Goulart.
Primeiro de maio: Getúlio, em seu último 1º de Maio, dobra o salário mínimo e diz aos trabalhadores, em Petrópolis: "Hoje estais com o governo. Amanhã sereis o governo”.
7 de maio: Vitória decisiva do Vietnã de Ho Chi-Min em Diem Bien-Phu. A França desiste da Indochina.
17 de junho: Golpe militar depõe o presidente nacionalista da Guatemala, Jacobo Arbenz.
21 de julho: Acordo de Genebra consagra a libertação da parte norte do Vietnã, com Ho Chi Minh como presidente.
24 de julho: A baiana Marta Rocha perde nos EUA o título de Miss Universo, por duas polegadas de quadris a mais.
15 de agosto: Circula frase, atribuída a Getúlio: "Tenho a impressão de estar em um mar de lama”.
22 de agosto: Brigadeiros exigem no Clube da Aeronáutica a renúncia de Vargas. Resposta: "Daqui só saio morto".
24 de agosto: Vargas se mata com tiro de revólver no peito, no Catete, Rio. O rádio irradia sua Carta-Testamento: "Esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém". Protesto espontâneo culpa os EUA pela morte, ataca sedes da UDN e da imprensa de direita. A explosão de revolta leva o Exército a ocupar as grandes cidades. A imprensa de esquerda, ou seja, a do Partido Bolchevique, também foi atacada e algumas sedes de seus jornais depredadas.
25 de agosto: 500 mil pessoas conduzem o corpo de Vargas ao aeroporto Santos Dumont e enfrentam tropa da Aeronáutica, no Rio. Em seu documento “50 anos de luta” o Partido é extremamente reticente sobre o período. Por isso recorro à opinião de um camarada que há tempos se desligou do Partido Bolchevique:
“Getúlio se elegeu e ficou o tempo todo de seu governo sob o ataque incessante do PCB. Quando a crise chegou ao seu auge em agosto de 1954, e Vargas estava sob o fogo cerrado da direita, o PCB não se deu conta de que a conjuntura sofrera uma mudança radical, permanecendo no ataque a Vargas. Somente alguns dias antes do suicídio de Vargas, Prestes conclamou o PCB, pela imprensa, a apoiar Getúlio. No entanto, isto foi inócuo pois os acontecimentos já estavam dados. Além disso, este apoio era cheio de restrições. Resultado: Getúlio cometeu o suicídio, as massas trabalhistas saíram às ruas e os militantes comunistas não tiveram alternativa senão a de juntar-se, nos mesmos protestos, aos trabalhistas. Esta questão, que deixou o PCB perplexo, influiu na posição com relação a JK. ” Trecho de uma entrevista de Jacob Gorender. (A antiga denominação do Partido Bolchevique do Brasil era Partido Comunista do Brasil, daí a sigla PCB).
 2 de setembro: Greve geral anticarestia, liderada pelo Pacto de Unidade Intersindical, para 1 milhão em São Paulo.
19 de setembro: Golpe militar leva o General Stroessner ao poder no Paraguai.
21 de setembro: 2ª conferência nacional de trabalhadores do campo (São Paulo) decide criar a Ultab (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil). Nessa década tem início a primeira onda de lutas pela reforma agrária no país.
Primeiro de novembro: A FLN começa a luta armada contra o domínio francês na Argélia, com 70 ações guerrilheiras.
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            Aos quatro anos, tiros só mesmo de espingarda de rolha. Aos cinco, eu ganhei um revólver de espoleta, que representou um ganho considerável de poder de fogo. A munição era uma tira de papel vermelho, com pontinhos pretos contendo pólvora. Ela era colocada no tambor e, cada vez que eu apertava o gatilho, o impacto detonava a espoleta. Um mecanismo de notável precisão tracionava a tira e a colocava em posição para novo disparo. Mulher bonita era só a minha mãe e Getúlio era a estampa da nota de dez cruzeiros, que eu raramente via, porque o salário mínimo era de Cr$ 2.300,00, em 1955, e uma nota dessas não andava nas mãos de menino. O Vietnã não existia, ficava para lá da Cochinchina.

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