Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

Consulte o dicionário do cinismo, no rodapé do blog.

Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A Invasão



Todos os chineses são iguais, embora alguns sejam desiguais, à sua maneira.
A sensação de já ter visto aquele chinês em particular veio em Estocolmo. Um clássico deja vu. Em São Petersburgo, numa lojinha de quinquilharias chinesas, onde entrei na esperança de achar um tabuleiro de xadrez que valesse à pena, veio a confirmação, diante de um baralho dedicado ao Grande Timoneiro: era o sobrinho-neto do Mao.
Não um sobrinho-neto legítimos, bem entendido, um sobrinho-neto presumível, que eu já havia visto em Paris, na Torre Eiffel, e que avistara de novo em Estocolmo, no Museu Vasa. Neto pela idade e sobrinho pela semelhança, que não era tão forte.
Fora em Paris que recomeçaram as teorias da conspiração. Uma foto, tirada do primeiro piso da Torre, onde havia chegado ofegante e feliz, por ter um coração que prometia uns 80 anos mais de bom funcionamento, fora a primeira chave. Ela mostrava o acesso pelo Campo de Marte, uma sucessão de três fitas retangulares, perfeitamente delimitadas, onde as pessoas, pequenos traços negros, eram dispostas em grupos que, claramente, não eram aleatórios.
Haveria ali um sistema de circulação, uma fórmula que relacionasse o número de pessoas por área com a quantidade de pequenos grupos, que formavam estruturas maiores, deixando largas áreas despovoadas? Algo como uma estrutura universal de galáxias, aglomerados galácticos e grandes aglomerados, preenchendo o vazio do espaço-tempo? Onde as leis de atração social seriam o análogo da gravitação e da matéria escura? Uma chave.
A foto foi tirada na esperança de que os pequenos traços-pessoas coincidissem com os furos num cartão perfurado achado em um livro comprado no sebo. Infelizmente, não poderia dizer mais qual fora o livro.
“Poincaré, presidente francês e matemático, ou vice e versa,  havia formulado o teorema do eterno retorno:
“Publicado em 1890, o teorema do eterno retorno afirma que um sistema mecânico finito com quantidade finita de energia deve eventualmente retornar arbitrariamente próximo a um estado inicial qualquer num número infinito de vezes. O teorema de Poincaré, segundo Brush, é uma tentativa de contestar a visão materialista e mecanicista de mundo, especialmente a teoria cinética dos gases. Partindo de leis mecânicas, o teorema conduz à conclusão da reversibilidade de processos mecânicos. Assim, inicialmente, o teorema do eterno retorno mostrou duas opções: ou abandono da segunda lei da termodinâmica, que aponta para a irreversibilidade de processos físicos, ou o abandono da descrição mecânica do mundo (o que Poincaré tinha em mente).”
Esse seria o enunciado forte do eterno retorno. Eu postulava um enunciado menos ambicioso: dado um sistema qualquer finito, seria possível achar um outro, com uma disposição tão próxima quanto se queira de alguns de seus parâmetros.
Uma foto de uma revoada de pássaros tirada no jardim Marjorelle, em Marrakesh, deveria coincidir, quase exatamente, com a de uma outra revoada, tirada em um outro local e em outra data, pela mesma pessoa.
No presente caso, uma foto tirada por mim, em Paris, se fosse devidamente retificada e ampliada na escala certa, mostraria que as pessoas estavam quase que exatamente nas mesmas posições que os furos de um cartão achado num livro (não se sabe qual, deve-se dar alguns graus de liberdade para a grande coincidência).
E mais, uma série de achados, reunidos durante mais de 20 anos, recolhidos de livros comprados aqui e ali, seriam capazes de serem juntados posteriormente numa grande estrutura, num romance que uniria e unificaria os grandes aglomerados humanos, numa estrutura passando por alguns pontos fixos arbitrários, de um espaço-tempo limitado.

A ser contnuada.



4 comentários:

  1. Muito interessante.
    Pattya

    ResponderExcluir
  2. MARCO AURÉLIO:PLANTADA A SEMENTE, INSTIGADA A CURIOSIDADE...QUANDO VAI DAR CONTINUIDADE? RSSS...ABRS FRATERNAIS DA SUA LEITORA DE CONTOS : CLEVANE

    ResponderExcluir
  3. Boa noite meu caro Marco, apenas com o intuito de colaborar, pois percebi que há um vácuo em relação ao Poincaré que formulou o teorema do Eterno Retorno e o Poincaré que presidiu a França, esclareço que eram primos, o formulador do teorema foi Jules Henri Poincaré já o presidente foi Raymond Poincaré. Mas isso não vem ao caso, o mais importante é que a “INVASÃO” continue, e que não tenho como sorte o mesmo fim de “O Eterno Retorno” concebido por Nietzsche.

    ResponderExcluir