Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

sábado, 15 de agosto de 2015

A invasão - segundo capítulo

A arte imita a vida, embora a vida nem sempre imite a arte. Essa assimetria o incomodava. No mundo material, por assim dizer, reina a simetria. Matéria e antimatéria, onda e partícula, bósons e férmions. No mundo das ideias, a falta de qualificação melhor, para modelos reais, pode haver uma cópia ideal, mas a recíproca, muitas vezes não ocorre.
Em Paris ele havia criado um epigrama: Paris é uma cidade chinesa, cheia de turistas, a maioria franceses. Era uma invasão disciplinada. Com guias ostentando bandeirinhas, ônibus fretados e um chinesinho de óculos, cara de nerd, que falava inglês.
Um grande autor brasileiro, grande pela quantidade de obras, criara os personagens perfeitos para a sua conspiração. Um baronete inglês, que vivia numa ilha paradisíaco, com suas seis noivas e que, volta e meia, era convocado para salvar a civilização das ameaças da Senhora do Mundo, Comandante Suprema do Exército do Suicídio Coletivo, Rainha Puríssima do Império do Nada.
Na vida real, a literatura de fricção de sua juventude, projetara uma sombra difusa num anteparo ideológico: o Grande Timoneiro.
Em novembro de 1957, em Moscou, falando para representantes dos comunistas de todo o mundo, ele pronunciou seu famoso discurso: “O imperialismo norte-americano é um tigre de papel”.
As palavras exatas de Mao foram: “Eu não tenho medo da uma guerra nuclear. Há 2,7 bilhões de pessoas no mundo, não importa se alguns morrerem. A China tem uma população de 600 milhões; mesmo que metade deles morra, ainda restará 300 milhões de pessoas. Eu não tenho medo de ninguém.”
Um drone, carregado por um norueguês corpulento, na fila da Norwegian, acionou uma outra chave. Mesmo antes dos drones e, com certeza, mesmo antes do novo mandato da velha presidente, ele já havia pensado na hipótese.
- Imagine um aeromodelo feito com C4, dirigido por controle remoto, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Bastaria apontá-lo e dirigi-lo em linha reta, passando pelo Congresso e dando uma guinada leve à esquerda, até o Palácio do Planalto.
- Teorias como essa não são boas para filas de embarque – advertiu o filho. Leve em conta que bomba, terrorista e ataque soam parecidas ao seu equivalente em inglês.
Calou-se. Nove anos de clandestinidade haviam servido para alguma coisa. Os pensamentos continuaram numa nova linhaE se?
Em Moscou, um novo epigrama: A China tem mais de um bilhão de habitantes, dos quais uns cem mil estão no exterior, fazendo turismo.
Mentira, é claro. A China é tão ou até mais desigual que o Brasil e sua elite não chegaria a um milhão. Aquele 1%, que como ele, ganharia o suficiente para excursionar pelo exterior. Uns cem mil chineses fazendo turismo. Essa seria a ordem de grandeza correta. Nem dez mil e nem um milhão. Um exército, de qualquer maneira.
E se?
Se parte da elite chinesa fosse mais cosmopolita, isso seria melhor do que uma geração moldada pela Grande Revolução Cultural Proletária.
Que não fora Grande (a não ser pelos números de pessoas envolvidas), nem mesmo uma revolução (apenas uma briga interna pelo poder) Muito menos cultural, já que fora dirigida, entre outras coisas, contra a cultura. E, com certeza, nem um pouco proletária (exército e estudantes formavam o grosso da tropa de choque que Mao havia lançado à luta).
Isso ele diria agora, enquanto ocasionalmente fazia turismo arqueológico, à procura de restos do socialismo.
40 anos atrás, ele acreditara que a terceira guerra mundial já havia começado. E que só a revolução poderia evitar a guerra.
E se?
Num mundo ideal, a Senhora do Mundo enviaria os seus agentes para explodir a Torre Eiffel, o Big Ben, o mausoléu de Lênin e a Estátua da Liberdade, para reinar nua, coberta apenas com sua máscara de jade, sobre os escombros de um mundo purificado.
Nessa jornada ela certamente contaria com a ajuda de um sobrinho-neto de Mao, que sonharia com a destruição dos malditos imperialistas americanos, dos revisionistas soviéticos e seus novos aliados, a renegada camarilha revisionista chinesa, que havia traído o marxismo-leninismo pensamento Mao Tsé-tung.
E que melhor lugar para esconder um agente chinês do que no meio de uma inofensiva comitiva de turistas chineses?
No mundo sublunar, definitivamente, reina a corrupção. Em lugar do Grande Timoneiro, temos uma casta de burocratas, que se renova periodicamente. O imperialismo não é mais um tigre de papel e a China é a maior detentora de papéis do tesouro nacional do antigo tigre, hoje parceiro.

A ser continuado.



Um comentário:

  1. Marcos Lisboa: agora não é só marxismo-leninismo-maoísmo. Vc está superado. Gonzalo é a quarta espada do marxismo. O peru é o centro da revoluçao mundial e uma nova onda de revoluções proletárias está pronta para ser lançada: Índia, Nepal, Filipinas, Turquia, todos têm guerrilhas maoístas ativas. É marxismo-leninismo-maoísmo-pensamento Gonzalo. A revolução continua no Vale do Apurimac no Peru. Eles publicam informes no blog Nueva Democracia Panama, do Gaytan, entre outros. Abs!

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