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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Uma resenha de Cuba: democracia ou ditadura? de Marta Harnecker.

A bolinha sorteada

Kafunga, um grande filósofo contemporâneo, contava que, em certa época, a Federação Mineira de Futebol havia encontrado a maneira perfeita de responder à acusação de que só escalava árbitros tendenciosos: três juízes eram pré-selecionados; um era escolhido por sorteio para apitar e os dois restantes iam para a bandeira. Toda imprensa podia ver um garoto enfiando a mão na sacolinha de pano e retirando a bolinha de madeira com o número do árbitro principal. O que ninguém via era o dirigente colocando a bolinha que seu filho iria sortear na geladeira.
O livro de Marta Harnecker pergunta: democracia ou ditadura? Eu acrescentaria ainda: socialismo ou capitalismo de estado?
Para responder estas perguntas é necessário conhecer a gênese da revolução cubana, ou melhor, como é que a bolinha do Partido Comunista Cubano foi parar na geladeira.
O mito da Revolução Cubana é muito conhecido: em 26 de julho de 53, Fidel e um punhado de companheiros tentou tomar de assalto o quartel de Moncada. Preso, foi para o exílio no México. Lá reuniu 80 homens que embarcaram no iate Granma. Foram emboscados e apenas 12 sobreviventes alcançaram a Sierra Maestra. Dois anos depois os guerrilheiros entravam em Havana.
O mito não persiste apenas no imaginário popular, ele inspirou uma geração de revolucionários por toda a América Latina. Regis Debray, um intelectual francês, deu forma teórica ao mito em seu livro “Revolução na revolução”. O próprio Che encontrou a morte na Bolívia tentando repetir a receita cubana.
Cuba era um país relativamente próspero sob Batista, apesar da grande desigualdade social e da existência de um governo corrupto e sanguinário. O grande partido de massas, de oposição, era o Partido Ortodoxo, de onde saíram os quadros que atacaram o quartel de Moncada. Seu símbolo era uma vassoura.
Os barbudos, como eram identificados os homens de Fidel, eram uns 300, ao final da luta. Do outro lado, havia o exército de Batista com 50.000 homens. Para entender como isto foi possível é preciso conhecer todas as forças envolvidas no processo.
Os estudantes tomaram parte ativa nesta luta, com suas federações. Os empregados no comércio e na indústria promoveram várias greves, inclusive a greve geral que impediu que o general indicado pelos americanos assumisse o lugar de Batista. Havia ainda o Diretório Revolucionário, que ajudou ativamente ao Che, na batalha decisiva de Las Villas e o Movimento 26 de Julho, muito amplo e abrigando várias tendências. Os camponeses tinham uma tradição de luta que vinha desde a guerra da independência. Fidel e seus homens foram acolhidos, logo depois do desembarque fracassado, por camponeses que já estavam organizados na luta contra Batista.
Pelo seu conteúdo, a revolução era essencialmente democrática burguesa. O Partido Comunista Cubano participava do governo Batista e condenou o levante armado. Apenas no final da luta, quando a balança já havia se inclinado para o lado dos rebeldes, é que eles apareceram na Sierra Maestra.
Segundo Marta Harnecker:
“Em 1959 existiam fundamentalmente três grupos revolucionários: o Movimento 26 de Julho, o Diretório Revolucionário e o Partido Socialista Popular (Partido Comunista) que agrupavam alguns milhares de militantes.”
O Partido Comunista era um grupo revolucionário que, não só não participava da revolução, como era contra ela!
“Esta longa luta começa sem que exista um partido revolucionário forte, mas contando com um líder indiscutível, Fidel Castro, que já antes do assalto ao quartel Moncada, juntamente com outros dirigentes do Movimento 26 de Julho, tinha feito sua a concepção marxista-leninista da história”. Harnecker, Marta.
Continua.

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