Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Segundo capítulo

Fidel: marxista, humanista ou oportunista?

Para decidir sobre esta questão é melhor escutar o próprio Fidel em um discurso feito em Nova York, no Central Park, em 1959, depois da tomada do poder.
"Nossa revolução pratica este princípio democrático e é favorável a uma democracia humanista. Humanismo quer dizer que, para satisfazer as necessidades materiais de muitos, não é necessário sacrificar os mais caros desejos do homem, que são suas liberdades, e que as liberdades mais essenciais do homem nada significam se suas necessidades materiais também não são satisfeitas.... Não ao pão sem liberdade, não à liberdade sem pão; não à ditadura de um homem só, não à ditadura de classes, grupos ou castas. Governo do povo sem ditadura ou oligarquia; liberdade com pão, pão sem terror: é o que significa o humanismo." Franqui, Carlos, Retrato de Família com Fidel.
Fidel diz com todas as letras: não à ditadura de classes. Ora, o traço essencial do leninismo é a sua teoria do estado e da ditadura do proletariado. Marx vê a história com uma contínua luta de classes, justamente o oposto do humanismo abstrato que Fidel defende.
Não se trata aqui de oportunismo ou de esperteza. Um marxista saberia muito bem como defender o conteúdo democrático da revolução, de maneira ampla, sem cometer tantas heresias teóricas. Fidel não era marxista. Seu irmão Raúl, Che, Haydée Santamaria, Camilo Cienfuegos e outros dirigentes, em graus variados, eram influenciados pelo marxismo. Marxista ou não, o fato é que todos reconheciam em Fidel o líder da revolução.
É interessante notar como os comunistas abrem mão de seu direito teórico de guiarem o processo revolucionário:
“ E foi um dia que jamais esqueceremos quando, com Blas Roca à frente, nos apresentamos todos perante Fidel Castro como simples soldados de fila de uma causa comum na qual ele era para nós, como para todo o povo revolucionário, o Comandante em Chefe” (discurso de Carlos Rafael Rodrigues, dirigente comunista). Harnecker, Marta.
Soldados que não pegaram em armas reconhecem em um líder que não era marxista o direito de conduzir o processo revolucionário! Pode-se dizer que nem mesmo os comunistas cubanos eram marxistas.
Tomado o poder, era preciso criar uma estrutura de governo. Dois anos depois, as três bolinhas - o Movimento 26 de Julho, o Diretório Revolucionário e os comunistas - vão para o mesmo saco: as Organizações Revolucionárias Integradas (ORI).
“Ernesto Che Guevara conta como a direção da Revolução pensara num organismo de “quadros estritamente selecionados” e ligados às massas, de uma “organização centralizada e elástica ao mesmo tempo”, e confiou “cegamente na autoridade ganha em muitos anos de luta pelo Partido Socialista Popular” deixando nas suas mãos a organização deste projeto.” Harnecker, Marta.
A bolinha foi para a geladeira!
Falar na “autoridade ganha em muitos anos de luta pelos comunistas” é piada de mau gosto. Vale notar que na hora de cometer um erro, o Comandante Fidel desaparece e surge uma direção da Revolução, anônima. A qualidade que certamente distinguiu os comunistas não foi sua “autoridade” como lutadores. Foi sua estrutura disciplinada e verticalizada, que permitia que seus militantes condenassem o assalto à Moncada como aventura num dia e se apresentassem ao aventureiro, como simples soldados de fila, no outro.
“Isto deu lugar – por tendências sectárias do PSP e porque muitos companheiros honestos acreditaram que Anibal [Escalante] seguia uma linha coletiva que incluía orientações do próprio Fidel – ao por em marcha todo um dogmatismo e sectarismo em que ... até desertores do PSP foram preferidos a combatentes da Serra, apenas por terem sido militantes do mesmo.” Harnecker, Marta.

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