Onde se explica a singularidade brasileira através de um modelo físico. Graças à ela, qualquer tsunami vira uma marola.
A melhor explicação para o fim da crise veio de um físico. O futuro ministro Oliveira, enquanto matava o tempo ocioso na repartição, havia elaborado um modelo para explicar a singularidade brasileira. Sua teoria, em pouquíssimas palavras, podia ser exposta assim: O Brasil é um sistema perfeitamente inelástico.
A melhor explicação para o fim da crise veio de um físico. O futuro ministro Oliveira, enquanto matava o tempo ocioso na repartição, havia elaborado um modelo para explicar a singularidade brasileira. Sua teoria, em pouquíssimas palavras, podia ser exposta assim: O Brasil é um sistema perfeitamente inelástico.
Um sistema elástico, quando
perturbado, utiliza a energia recebida para oscilar em torno de uma posição de
equilíbrio. Como vivemos no mundo sublunar, onde reina a corrupção, o atrito
impede que esse movimento se eternize. Um pêndulo, quando solto, oscila durante
certo tempo e finalmente para. Um sistema inelástico absorve toda a energia
recebida e volta rapidamente à posição de equilíbrio. Um exemplo clássico é o
amortecedor de um carro. Sua mola tem uma massa e uma constante elástica tais
que o carro passa em cima dos buracos sem trepidar.
A economia brasileira já havia
experimentado choques mais violentos do que os causados pelas crateras de
nossas estradas e sempre voltava rapidamente a uma posição de equilíbrio. Há um
exemplo clássico: um dos apoiadores da nova presidente, quando ocupara o cargo,
havia feito um gigantesco confisco.
Pais de família, que haviam
economizado a vida toda para comprar uma casa, doentes que estavam poupando o
dinheiro da operação, pequenos empresários que aplicavam o dinheiro do
pagamento de seus funcionários, todos ficaram a ver navios. O bom senso
indicava que o país não duraria uma semana. Previam-se rebeliões, saques,
fábricas fechadas, o comércio parado e assim por diante. Nada disso aconteceu.
O Presidente ainda governou um bom tempo, com apoio popular, até que um escândalo
de família provocou o seu impeachment.
Na verdade, o enunciado forte
da singularidade brasileira não se refere apenas à economia - ele abrange todos
os aspectos da nossa vida social. A corrupção é um bom exemplo. Freqüentemente
são mostrados flagrantes de envelopes passando para as mãos de funcionários,
notas na cueca, montanhas e montanhas de dinheiro sem origem, gravações de
conversas, vídeos. Todos os tipos de prova, produzidos pela moderna tecnologia,
são servido nas revistas semanais, nos jornais, na televisão, em horário nobre.
Vinhetas especiais são criadas para identificar o novo escândalo, que depois de
certo tempo some sem deixar traços.
O que o povo brasileiro possui
de tão singular? Em seu linguajar chulo, Oliveira, o novo ministro afirmava: “o
povo brasileiro é que nem vaca – está cagando e andando. E pastando por cima. E
tomando em pé, – acrescentava”.
Algumas características são
óbvias: a nossa índole pacífica e cordial, por exemplo - a vocação bovina de
que Oliveira falava. Dificilmente algo no Brasil chega às últimas
conseqüências, às vias de fato. Somos o país do eufemismo, da hipocrisia. Nós
tendemos espontaneamente para a posição de equilíbrio, a natureza da alma
brasileira abomina os extremos.
Outra característica nossa é a
falta de memória: vivemos sempre no presente e adoramos novidades, não importa
se requentadas. Essa inconseqüência natural é muito útil para a estabilidade
política. Um escândalo atual sempre abafa o anterior e ninguém se espanta
quando inimigos figadais, de repente, passam a serem amigos íntimos.
Uma das qualidades que mais nos
distingue é a nossa capacidade de improvisação, de dar um jeitinho, de fazer
uma gambiarra. Como não cultuamos nenhum valor ou modelo passado, sempre
encaramos cada problema como um novo desafio, sem fórmulas prontas. Nós não
inventamos a roda, mas somos mestres em fazer o carro pegar no tranco, em fazer
uma chupeta. Essa estratégia de contornar, de comer pelas beiradas, de empurrar
com a barriga, quando necessário, sem adotar uma solução definitiva, acaba se
revelando útil em situações novas e complicadas, que não podem ser resolvidas
com as antigas soluções. Um dos nossos anti-heróis, D. João VI, pontificava:
‘se você não sabe o que fazer, não faça nada.”
A Europa é uma prostituta cansada
e experiente. A Ásia uma tia velha e reumática. Os Estados Unidos uma
adolescente com os hormônios a flor da pele, querendo conquistar o mundo. E nós
uma criança de 5 anos.
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