Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Capítulo 3 segunda parte


O álbum de fotos


Zé Dirceu, Wladimir Palmeira e Genoino, hoje lideranças nacionais do PT, são velhos conhecidos. Em 1968, em um sítio em Ibiúna, São Paulo, eles participaram do lendário XXX Congresso da UNE – União Nacional dos Estudantes. A polícia descobriu o local e os setecentos e poucos delegados foram presos e colocados em fila, no meio da lama, para serem revistados e enviados para o Presídio Tiradentes.

Um estudante ficava repetindo a música: “Aqui dá pra rir, dá pra chorar... enquanto todo o resto ria. De repente, passou uma camionete C-14 da polícia, com Wladimir, Travassos , Zé Dirceu e o então Presidente da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Antônio Guilherme Ribeiro Ribas. Os estudantes passaram então a entoar o refrão: “A UNE somos nós, nossa força, nossa voz”, para demonstrar que estavam unidos, apesar das divergências que pudessem haver entre suas lideranças.

Quando um dos policiais que comandavam a operação identificou o Presidente da UBES, Antonio Ribas, disse mais ou menos o seguinte: “Você não tem jeito mesmo, seu Ribas, foi preso entregando panfletos no Desfile de 7 de setembro (...) foi solto na véspera desse Congresso da UNE. Hoje, três dias depois de ser solto, já é preso novamente. Você é um caso perdido” . De fato, felizmente, ele era um caso perdido. No dia seguinte, os jornais estamparam a foto de Guilherme, ao lado de José Dirceu, sendo transportados para o Presídio Tiradentes. Infelizmente, essa não foi a única foto tirada. A polícia montou um álbum de fotografias do Congresso, que mais tarde seria o pesadelo dos militantes clandestinos.

Ribas, Zé Dirceu, Wladimir Palmeira e Travassos se tornaram conhecidos como “o grupo dos quatro”. Guilherme foi condenado a um ano e seis meses de prisão, acusado de organizar o Congresso. A maioria dos presos foi solta através de habeas-corpus, mas o AI-5 , decretado numa sexta-feira 13 de dezembro de 68, suspendeu esse instrumento e manteve o grupo dos quatro na cadeia.

Quando ocorreu o seqüestro do embaixador norte-americano, em setembro de 1969, Guilherme estava no Presídio Tiradentes. Aqui existe um ponto obscuro em sua história. Alguns dizem que ele seria incluído na lista dos presos a serem libertados, outros dizem que não.

Seja lá como for, no final de 1969, Diógenes Arruda e Paulo de Tarso Venceslau , se juntaram ao Guilherme numa das celas do Presídio Tiradentes. A cela tinha até nome, “Monteiro Lobato”, em homenagem a um antigo hóspede. Paulo de Tarso nos conta:

“Durante todo tempo que estivemos presos mantivemos [ele e Ribas] um bom relacionamento. Diferente foi o relacionamento com Arrudão, sempre marcado por altos e baixos, porém com muito respeito”. (...) “Na época, minha organização - ALN - tinha críticas ao PC do B, considerado uma variante chinesa do reformismo soviético. (...) Como não sabia da iniciativa em Goiás e Sul do Pará, eu achava que o discurso de Arruda não passava de retórica. Difícil foi ter de engolir que Ribas saiu da prisão e seguiu logo depois para a área rural. Ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer”.

Guilherme foi solto em abril de 1970. Talvez tenha sido o último preso de Ibiúna a sair do cárcere. Imediatamente, entrou na clandestinidade. Primeiro foi para uma fazenda da família em Limeira (SP) e depois seguiu para Duque de Caxias, baixada fluminense. Antes de embarcar para o seu destino de guerrilheiro nas matas do Araguaia, fez uma última reunião com a família. Naquela noite afirmou: “voltarei à frente de uma revolução ou não voltarei”.

Quando Ribas chegou à região do Rio Gameleira, em outubro de 1970, adotou o nome de Zé Ferreira. Como não havia condições de ficar todo mundo numa mesma casa, comprou um castanhal a 24 km. do rio, que passou a ser conhecido como “O Castanhal do Zé Ferreira”. A área era relativamente deserta e poderia abrigar mais companheiros.



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