Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Acalanto para o menino afogado



Eu não conheço o menino afogado
Nada sei sobre o menino afogado
Eu não matei o menino afogado

A culpa não é minha

Culpem o mau tempo
O pai, que não segurou direito o menino
O fanatismo... quem sabe, o imperialismo?
Qualquer coisa

Parem de postar a foto do menino afogado

Não é real
Parece um boneco que o mar jogou na praia
Com tanta foto boa
De criança queimada, esburacada de bala, deformada, esmigalhada

Aquelas fotos
De se olhar e dizer
A guerra é uma coisa horrível!
Até quando, oh, Senhor?
Ainda bem que, no Brasil...

Chega dessa porra de menino afogado

Ele não é meu filho
È só um menino
Parece tranquilo
Podia estar dormindo
Que bom que não vai acordar

Eu acordo
Vejo sua foto pela milésima vez
E não sei o que dizer

Marco Lisboa
8/9/15










4 comentários:

  1. ... e, continuam estuprando meio mundo
    ... estupram até nossa sensibilidade
    'inda temos que recolher os cacos das nossas almas...

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  2. Tristemente oportuno e poeticamente provocativo.

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  3. MARCO LISBOA:FORTES E INSTIGANTES, CORAJOSOS VERSOS NESSE POEMA.BEM VISCERAL!CLEVANE PESSOA.

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  4. Perfeita, oportuna e politicamente muito adequada ao nosso momeno.
    Me lembrou Maiakovski
    Parabéns MARCO!

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