Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Em busca do vento perdido


 Em 18 de agosto de 1871, nos Jardins das Tulherias, Pénaud fez voar na presença de representantes da Société aéronautique de France, um modelo de aeroplano motorizado, o Planophore, acionado por um motor à elástico (pelo desenrolar de de uma tira de elástico previamente enrolada). Ele voou por 60 metros a vinte metros de altura durante 13 segundos.

Atendendo ao apelo de Dona Dilma, por uma tecnologia de estocagem de vento, eu apresento a Anemoteca, um armazenador de vento. Penaud produziu vento com uma tira de borracha enrolada. Eu pretendo seguir o caminho inverso, estocar vento, usando uma tira de borracha. A idéia é simples: basta acoplar ao eixo da hélice de um moinho de vento uma tira de borracha, O vento irá enrolar a tira, durante a noite, quando, segundo a insistenta, pode ventar mais. Isso feito, um mecanismo irá travar a hélice, quando a borracha estiver totalmente torcida. Durante o dia, bastará destravar a hélice e utilizar o vento estocado. Se o aeroplano voou, não há porque a minha Anemoteca não funcionar. Estou esperando o financiamento para aperfeiçoar a minha invenção. Que já foi patenteada. Primeirão.
Vamos prosseguir na nossa demonstração. Supondo que a minha Anemoteca funcionasse, durante o dia, o moinho de vento poderia usar o vento estocado durante a noite para produzir energia elétrica e nossa presidente estaria coberta de razão. 
UEPA. Faltou um pequeno detalhe, não dá para estocar e gastar ao mesmo tempo. A Anemoteca ocupou o moinho a noite toda, estocando vento. Então, se o dispositivo for usado para produzir vento, durante o dia, só estaremos trocando o dia pela noite. Em vez de termos x de vento para ser usado durante a noite, teremos esse x para ser usado durante o dia. 
Que dureza! Na cabeça de nossa presidente, como é possível arrecadar e pedalar ao mesmo tempo, o estocador de vento seria uma pedalada eólica. Que não funciona, como as pedaladas fiscais não funcionaram.
Há um outro probleminha, a maldita Segunda Lei da Termodinâmica. E não há decreto que passe por cima dessa lei e autorize a estocagem de vento de maneira econômica.
Explicando de uma forma que até o Lula entenderia (a Dilma não vai entender), todo processo de transformação de energia não consegue fornecer mais energia útil na saída do que a que foi usada na entrada. Todo máquina tem um rendimento menor do que 100%. O motor de um carro tem um rendimento de 30%. Isso quer dizer que só 30% da energia química (a explosão da gasolina) resulta em energia cinètica (o movimento do carro). Logo, a melhor coisa a fazer com o vento não é estocá-lo para depois usá-lo. É usá-lo diretamente para produzir energia elétrica. No processo de estocagem haverá uma perda. No processo de liberar o vento estocado, haverá outra perda. Economicamente, a estocagem de vento é inviável. Tudo bem que a Dilma é perita em apoiar processos economicamente inviáveis, mas nesse tempo de véspera de apagão, eu não recomendaria.
Mas por que se pode estocar água e não compensa para o Brasil estocar vento? Bom, a água evapora usando a energia solar (grátis). Depois cai no reservatório graças à lei da Gravidade (grátis e irrevogável). Uma vez construída a barragem, ela vai passar a vida toda armazenando água e gastando a água armazenada, sem custo adicional. 
Mas e o vento? Mesmo que o processo não seja econômico, ele não seria viável, numa região de vento escasso? Digamos que se estoque só metade do vento produzido a noite para ser usada durante o dia. Aí teríamos vento diuturna e noturnamente, como diria a insistenta. Beleza. Só tem outro pequeno problema. Como a própria presidente deveria saber, nosso sistema é todo interligado. Então, o mais econômico é usar o vento, enquanto ventar e usar a energia de outras fontes, quando não ventar. Sem graça, né? E eu que pensei que iria faturar uma grana com a Anemoteca.
E o papo de usar rocha porosa para armazenar ar comprimido? Se você tiver o tipo certo de rocha porosa, na região certa, onde já há moinhos de vento produzindo energia elétrica de forma econômica, então, talvez esse processo seja viável para garantir uma geração constante de energia elétrica, onde o uso de outras fontes não compense. O fato é que esse processo só é usado em dois locais, no mundo todo e ainda está em fase experimental.

Fora isso, estocar vento é que nem cultuar a mandioca e comungar com o milho. São delirios de uma memória corrompida. O que se estoca nunca é o vento. É algum tipo de material (ar comprimido, por exemplo) que pode ser usado para produzir energia eólica, que será transformada em energia elétrica. Ou então, no caso da Anemoteca, a energia eólica é transformada em energia potencial elástica que poderá ser transformada novamente em energia eólica. Com uma perda considerável na estocagem e na liberação.

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