Os ignobéis
O Ignobel é um contraponto muito bem humorado à sisudez do Nobel. Existe desde 91 e premia as mesmas áreas, só que com critérios um pouco diferentes. Ele distingue as pesquisas, digamos assim, mais inusitadas. Um dos meus preferidos é o Ignobel de Física concedido ao cientista que demonstrou, através de simulações, que o pão sempre cai do lado da manteiga. Na realidade, ao ser derrubado, ele tem o tempo exato para executar uma meia rotação em torno de seu centro de gravidade. Murphy está cientificamente correto.
Este ano os físicos se superaram. Uma pesquisa, encomendada pela marinha sueca, comprovou que os arenques se comunicam através de flatulências. Inicialmente chegou-se a pensar que os ruídos fossem provenientes de submarinos russos. Podemos dizer que a guerra nuclear esteve por um pum!
O flato, além destes aspectos duplamente escatológicos, se presta a outras elucubrações, notadamente no terreno estético. Sem a mínima pretensão de esgotar o tema, examinarei algumas metáforas muito batidas, à luz desta recente descoberta.
O coração é um músculo. Quando vemos um no açougue, não nos passa cabeça que ele poderia ser a sede das paixões e das emoções. Sabemos que é o cérebro que aloja estes sentimentos. E que se o coração bate, dispara ou até mesmo pára, é porque houve um comando lá de cima.
Mas a literatura demora muito a incorporar as conquistas da ciência. E o coração continua padecendo na mão de bons e maus escritores. Ora apunhalado, ora dilacerado, persiste como a sede dos sentimentos, já que o cérebro, seu rival no reino das metáforas, é sempre frio e calculista.
A língua, que também fica exposta no balcão de frios, é sinônimo de idioma, em várias outras línguas. E a boca, que exterioriza os nossos pensamentos? Ela, que é a porta voz do cérebro, parece ter vida própria, capaz de transformar qualquer discussão em bate-boca. O uso metafórico destas duas é tão generalizado, que passa até despercebido. Já a outra extremidade sonora do aparelho digestivo é amplamente discriminada na literatura. A não ser nas páginas do Marques de Sade, ela nunca é ouvida.
Imaginemos uma estética arenque. Teríamos o intestino no lugar do coração e o esfíncter no lugar da boca. Imaginemos ainda que os abnegados cientistas não tivessem concluído a sua pesquisa e que alguma mente brilhante tivesse “decifrado” os sinais que, supostamente, os submarinos russos estavam emitindo. Por fim, visualizemos um casal de arenques apaixonados, flatulando juras de amor, enquanto os fantásticos doutores da CIA convencem o presidente Bush que a terceira guerra começou. Tudo isto ao som de Fagner.
Os ignobéis – Prolegômenos para uma Estética da Flatulência
O Ignobel é um contraponto muito bem humorado à sisudez do Nobel. Existe desde 91 e premia as mesmas áreas, só que com critérios um pouco diferentes. Ele distingue as pesquisas, digamos assim, mais inusitadas. Um dos meus preferidos é o Ignobel de Física concedido ao cientista que demonstrou, através de simulações, que o pão sempre cai do lado da manteiga. Na realidade, ao ser derrubado, ele tem o tempo exato para executar uma meia rotação em torno de seu centro de gravidade. Murphy está cientificamente correto.
Este ano os físicos se superaram. Uma pesquisa, encomendada pela marinha sueca, comprovou que os arenques se comunicam através de flatulências. Inicialmente chegou-se a pensar que os ruídos fossem provenientes de submarinos russos. Podemos dizer que a guerra nuclear esteve por um pum!
O flato, além destes aspectos duplamente escatológicos, se presta a outras elucubrações, notadamente no terreno estético. Sem a mínima pretensão de esgotar o tema, examinarei algumas metáforas muito batidas, à luz desta recente descoberta.
O coração é um músculo. Quando vemos um no açougue, não nos passa cabeça que ele poderia ser a sede das paixões e das emoções. Sabemos que é o cérebro que aloja estes sentimentos. E que se o coração bate, dispara ou até mesmo pára, é porque houve um comando lá de cima.
Mas a literatura demora muito a incorporar as conquistas da ciência. E o coração continua padecendo na mão de bons e maus escritores. Ora apunhalado, ora dilacerado, persiste como a sede dos sentimentos, já que o cérebro, seu rival no reino das metáforas, é sempre frio e calculista.
A língua, que também fica exposta no balcão de frios, é sinônimo de idioma, em várias outras línguas. E a boca, que exterioriza os nossos pensamentos? Ela, que é a porta voz do cérebro, parece ter vida própria, capaz de transformar qualquer discussão em bate-boca. O uso metafórico destas duas é tão generalizado, que passa até despercebido. Já a outra extremidade sonora do aparelho digestivo é amplamente discriminada na literatura. A não ser nas páginas do Marques de Sade, ela nunca é ouvida.
Imaginemos uma estética arenque. Teríamos o intestino no lugar do coração e o esfíncter no lugar da boca. Imaginemos ainda que os abnegados cientistas não tivessem concluído a sua pesquisa e que alguma mente brilhante tivesse “decifrado” os sinais que, supostamente, os submarinos russos estavam emitindo. Por fim, visualizemos um casal de arenques apaixonados, flatulando juras de amor, enquanto os fantásticos doutores da CIA convencem o presidente Bush que a terceira guerra começou. Tudo isto ao som de Fagner.
Tenho um intestino
Dividido entre o grosso e o fino
Tenho um intestino, bem melhor se não tivera,
Este intestino,
Não consegue se conter ao ouvir teu flato
Pobre intestino,
Sempre escravo da gordura,
Quisera ver o Bush,
Quando em meu líquido oceano flatular,
Fazendo borbulhas de amor no seu sonar,
Passar as noites em claro, dentro da CIA
O Bush, vai enfeitar de satélites a ionosfera
Fazer piruetas de horror à luz da lua
Saciar esta loucura, dentro da CIA
Flatula intestino,
Que esta alma necessita de ilusão,
Sonha intestino, não te enchas de amargura
Este intestino,
Não consegue se conter, ao ouvir o teu flato
Pobre intestino, sempre escravo da gordura,
Uma noite, para unir-nos, até o fim,
Bomba a bomba, míssil a míssil
E morrer, para sempre ...dentro de ti
P.S. O Aurélio parece ter se antecipado a estética arenque. Ele registra flato como: 1. Flatulência. 2. Desejo forte; ânsia, gana.
PPS Aproveitando que o Aurélio está a mão, temos duas acepções para Escatologia:
Escatologia¹: Tratado acerca dos excrementos
Escatologia²: 1.Doutrina sobre a consumação do tempo e da história 2. Tratado sobre os fins últimos do homem.
Tenho um intestino
Dividido entre o grosso e o fino
Tenho um intestino, bem melhor se não tivera,
Este intestino,
Não consegue se conter ao ouvir teu flato
Pobre intestino,
Sempre escravo da gordura,
Quisera ver o Bush,
Quando em meu líquido oceano flatular,
Fazendo borbulhas de amor no seu sonar,
Passar as noites em claro, dentro da CIA
O Bush, vai enfeitar de satélites a ionosfera
Fazer piruetas de horror à luz da lua
Saciar esta loucura, dentro da CIA
Flatula intestino,
Que esta alma necessita de ilusão,
Sonha intestino, não te enchas de amargura
Este intestino,
Não consegue se conter, ao ouvir o teu flato
Pobre intestino, sempre escravo da gordura,
Uma noite, para unir-nos, até o fim,
Bomba a bomba, míssil a míssil
E morrer, para sempre ...dentro de ti
P.S. O Aurélio parece ter se antecipado a estética arenque. Ele registra flato como: 1. Flatulência. 2. Desejo forte; ânsia, gana.
PPS Aproveitando que o Aurélio está a mão, temos duas acepções para Escatologia:
Escatologia¹: Tratado acerca dos excrementos
Escatologia²: 1.Doutrina sobre a consumação do tempo e da história 2. Tratado sobre os fins últimos do homem.