Na foto, a Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, Amenaide Bandeira Rodrigues faz a entrega do diploma de membro correspondente.
Abaixo, reproduzo meu discurso, muito aplaudido, principalmente no seu início: "Serei breve."
Senhora Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, demais membros da mesa, convidados, senhoras e senhores presentes,
Serei breve. Não fugirei do protocolo que me pede para sê-lo. Desde já, de maneira alguma, esse chamado à concisão me desagrada. Não se é físico impunemente. Foi antes um alívio, saber que teria que me concentrar no que realmente importa. Escolhi fazer uma síntese do que representou para mim essa convocação.
Assim que recebi o convite para me tornar membro correspondente dessa Academia, foi inevitável pensar que estaria sucedendo ao meu amigo Luiz Paulo Lírio de Araújo. Uma leitura conscienciosa de seus estatutos convenceu-me de que não há uma cadeira permanente de membro correspondente. Não bastasse essa razão, além de mim, foram convocados outros escritores com o mesmo direito a reivindicar esse título inexistente; alguns até com um maior tempo de convivência com esse grande escritor. Mas a sensação inicial persiste.
Eu e Luiz estávamos ligados por dois laços muito fortes. Um que remonta a nossa juventude, aos tempos de estudantes do Estadual Central. Pertencemos a uma geração privilegiada do ponto de vista histórico: éramos adolescentes em 64, amadurecemos com o AI-5 e nos tornamos adultos nos anos de chumbo.
Essa vivência trouxe ao nosso trabalho de escritor algumas características em comum: a irreverência, a rebeldia e a preocupação com as causas sociais. Marcas de uma geração que teve Dilma e Henfil, para citar apenas dois dos mais ilustres ex-estudantes do Estadual.
Outro laço, mais recente, veio da luta na frente cultural. Uma grande amiga em comum, Clevane Pessoa, que eu acabara de conhecer, nos aproximou novamente. Nossa trincheira, durante certo tempo, foi a Revista Estalo, onde, pela primeira vez, fui publicado.
Luta árdua, que, às vezes, nos lembrava os tempos da ditadura. Sentíamo-nos como que acendendo velas na escuridão. Luiz encarava o ofício de escrever como um chamado. Eu era mais cético. “Use menos o lirismo e mais a paulada, dizia-lhe. Estamos num país de analfabetos funcionais. Poupe suas energias.” Ele dava sua risada inconfundível e seguia em frente. Lembro-me, ainda agora, o orgulho e a alegria com que tomou posse na Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Meu amigo não poupou energias. Nem tempo, nem dinheiro e nem saúde. Batalhou até o último instante, literalmente. Revejo-o no hospital, com o laptop no colo, comentando o que seria o seu próximo conto, calcado nas peripécias de seu internamento em Aracaju.
Sua morte prematura foi um catalisador. Avivou chamas, despertou ânimos, encorajou vocações latentes. Nesse sentido, somos todos, um pouco, seus sucessores. Temos o mesmo compromisso. E é esse compromisso que me trouxe hoje, até esta casa. Muito obrigado.
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