Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sobre ratos e homens


Em 1945, o PCB, recém legalizado, lançou a candidatura de Yedo Fiúza a presidência. No fundo, queria a volta de Getúlio. A palavra de ordem era: Constituinte com Getúlio. A tentação do populismo é antiga, como se vê. Há pouco tempo, o PC do B lançou a campanha por um terceiro mandato para Lula. O fato é que choveram denúncias em cima do candidato, que foi apelidado por seus adversários de Rato Fiúza.
Muito tempo depois, num reunião para divulgar a história do partido, Lincoln Oest, Membro do Comitê Central do PC do B, me contou uma anedota. Certo dirigente havia procurado um operário que estava sem contato para engajá-lo na campanha.
Em quem você vai votar? – perguntou.
E o operário, meio ressabiado, respondeu: - vou votar no Rato.
Nestes tempos em que se debate quem é o rato mais gordo e quem comeu mais queijo, é oportuno refletir sobre a relação entre ética e política. Com certeza, nós não vivemos num mundo ideal. Aristóteles já havia dito que o mundo sublunar é o mundo da corrupção. Não dá para fazer alianças só com quem pode apresentar um atestado de bons antecedentes.
Para mim, dois critérios são importantes: a aliança deve ser feita em cima de programas e não de cargos; é preciso manter a independência política em relação aos seus aliados. A raiz das dificuldades que o governo Dilma está enfrentado está na sua política de alianças. Quando se raciocina apenas em termos eleitorais, acaba-se aliando a setores conservadores e de direita.
A conseqüência é o loteamento do estado, para contemplar estes aliados e o rebaixamento de seu programa. Os movimentos populares se desmobilizam, ao verem que as bandeiras mais avançadas não passavam de bravatas de campanha. Abre-se o caminho para o peleguismo e a cooptação.
Por outro lado, o governo se torna refém destes aliados. E o que é pior, assim que começam as denúncias de corrupção, setores de esquerda se vêem no triste papel de botar a mão no fogo pelas ratazanas. Podem sair chamuscados. Neste momento, deveria prevalecer o princípio da independência: o ratinho que cair na ratoeira deve se virar sozinho.
Para não correr o risco de defenderem quem está guinchando com o pedaço de queijo na boca, setores de esquerda partem para desqualificar a imprensa que denuncia. É a lógica das campanhas eleitorais. Nelas, diariamente, cai um monte de denúncias sobre os candidatos e seus aliados. Quem usar o seu tempo se explicando, ficará na defensiva. Parte-se então para o fogo cruzado. Os seus corruptos são mais corruptos do que os meus! Chumbo trocado não dói.
Como não dá para passar quatro anos usando esta retórica, acenam com a ameaça de golpe. Todos contra a PIG - o partido da imprensa golpista. Uma coisa é certa: como nas campanhas eleitorais, ninguém está interessado na moralidade pública. Trata-se de uma disputa política. A pergunta que não quer calar é: vale a pena comprar esta briga? Será que não é este o momento de repensar o modelo de alianças?

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