Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Carnaval

Três anos atrás, fiz uma poesia que falava de carnaval, desastres rodoviários e guerra do Iraque.

O carnaval na tevê

Uma sambista tradicional foi barrada, porque não queria desfilar pelada.
Uma famosa desconhecida também – porque só queria desfilar nua.
Os traficantes pagaram hora extra para os seus funcionários. Eles garantiram que não há risco de desabastecimento.
Em Cuba, o Comandante insiste em não botar o bloco na rua.
No Rio, morreu mais um sambista imortal, em pleno esquecimento.
O PCC comunicou que a folia está permitida e deu folga pra polícia.
A milícia também parou, já que é paramilitar.
As policias federais, estaduais e municipais só autorizaram um número de mortes menor do que o do ano anterior.
O governo garantiu que os aviões sairiam da pista com o atraso regulamentar.
Eu vi toda a Bahia na tevê, menos um baiano, que preferiu ficar anônimo.
Os nobres parlamentares foram descansar. Afinal, ninguém é de ferro.
Uma bichinha ganhou o prêmio de originalidade no desfile do Municipal. Vestia a sua tradicional fantasia.
Esse ano não foi igual àquele que passou. A nova tevê é LCD, 32 polegadas.


Balanço do carnaval em Minas

Setecentas léguas de engarrafamento
Trinta vítimas fatais. Em Bagdá
Porque aqui foram mais
E mais se esperam, a qualquer momento

No meio de tanta gente
Duzentos e cinqüenta e nove cabaços
Voaram felizes para o espaço
Trinta e sete estupros, infelizmente
Também, no meio de tanta gente

Noventa e quatro novos casos de Aids
Oitenta e um fetos indesejados
No meio de tantos desejos,
No meio de tantos afetos
Evoé baco! No paraíso
Uma serpentina enlaçou Adão

Mil trezentos e trinta e seis poetas
Tristes e embriagados
Cantaram em versos de pé quebrado
As mulatas analfabetas e as mocinhas iletradas
Salve o balanço! Salve a malícia! E salve o requebrado!

Hum milhão quinhentos e dezenove mil litros bem bebidos
Sem contar quanta erva se queimou
Fora todo o pó que foi cheirado. E os comprimidos
Não falo dos êxtases alcançados
Nem dos picos
Porque são muitos e são fáceis os caminhos para o Paraíso

Noventa e quatro milhões de reais em dívidas novas
Não importa que na realidade
A felicidade não se venda
A fantasia tem crédito ilimitado
Não depende de comprovação de renda

Ah meu Deus
Quanta felicidade!
O que seria, oh senhor
Se não houvesse o Carnaval!

21.02.2007



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