Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Conversações

CONVERSA SOBRE POESIA COM O FISCAL DE RENDAS


de Vladimir Maiakósvki; tradução de Augusto de Campos

(Fragmento inicial)


Cidadão fiscal de rendas!
Desculpe a liberdade.     
Obrigado...
Não se incomode...
Estou à vontade.
A matéria
que me traz
é algo extraordinária:
o lugar do
poeta
na sociedade proletária.
Ao lado
dos donos
de terras e vendas
estou também
citado
por débitos fiscais.
Você me exige
500 rublos
por 6 meses e mais
25 por falta
de declaração de rendas.
O meu trabalho
a todo
outro trabalho
é igual.
...
Conversação do fiscal de rendas com o poeta
Marco Lisboa


Há em mim um carniceiro
Que se alimenta da carcaça dos versos apodrecidos
Um açougueiro
Que vende em postas a carne quente dos poemas


Sei apenas que não ousaria tocar
Na unha suja do dedão do pé de Mítia Karamazov
Nunca faria lipoaspiração nas Três Graças de Rubens
Nem photoshop no auto-retrato de Rembrandt






Sem silicone, sem botox
Só a crueza do aço inox

Tudo o mais é permitido
Dizem que em algum lugar do Brasil
Há uma repartição
Lá se vendem licenças poéticas

Há outra ainda
Onde sou modesto fiscal de rendas
Juro que assinaria, sem piscar
O auto de infração de Maiakóvski
E depois, lhe pagaria para consolar
Um traçado de cachaça com jurubeba

Ah! Esses poetas de gravata amarela
Não agüentam uma prensa
Qualquer ditadurazinha os derruba
Por qualquer vagaba eles se matam

Menos sensibilidade, camaradas poetas
Nada de cortar as artérias
A nossa intervenção há que ser cirúrgica
Somos apenas velhas parteiras
Induzindo a vida a parir poesia

25.08.06

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