de Vladimir Maiakósvki; tradução de Augusto de Campos
(Fragmento inicial)
Cidadão fiscal de rendas!
Desculpe a liberdade.
Obrigado...Não se incomode...
Estou à vontade.
A matéria
que me traz
é algo extraordinária:
o lugar do
poeta
na sociedade proletária.
Ao lado
dos donos
de terras e vendas
estou também
citado
por débitos fiscais.
Você me exige
500 rublos
por 6 meses e mais
25 por falta
de declaração de rendas.
O meu trabalho
a todo
outro trabalho
é igual.
...
Conversação do fiscal de rendas com o poeta
Marco Lisboa
Há em mim um carniceiro
Que se alimenta da carcaça dos versos apodrecidos
Um açougueiro
Que vende em postas a carne quente dos poemas
Sei apenas que não ousaria tocar
Na unha suja do dedão do pé de Mítia KaramazovNunca faria lipoaspiração nas Três Graças de Rubens
Nem photoshop no auto-retrato de Rembrandt
Sem silicone, sem botox
Só a crueza do aço inox
Tudo o mais é permitido
Dizem que em algum lugar do Brasil
Há uma repartição
Lá se vendem licenças poéticas
Há outra ainda
Onde sou modesto fiscal de rendas
Juro que assinaria, sem piscar
O auto de infração de Maiakóvski
E depois, lhe pagaria para consolar
Um traçado de cachaça com jurubeba
Ah! Esses poetas de gravata amarela
Não agüentam uma prensa
Qualquer ditadurazinha os derruba
Por qualquer vagaba eles se matam
Menos sensibilidade, camaradas poetas
Nada de cortar as artérias
A nossa intervenção há que ser cirúrgica
Somos apenas velhas parteiras
Induzindo a vida a parir poesia
25.08.06