Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sigam o dinheiro!



Recentemente a revista Piauí publicou uma reportagem que conta as aventuras de Tariq Ali, um paquistanês, na Coréia do Norte. Ele revela, entre outras coisas, que os dirigentes norte-coreanos subornavam intelectuais e ativistas de esquerda para fazerem declarações favoráveis ao regime.
O reino dos Kim é motivo de piada em todo o mundo. Recentemente foi “eleito” o homem mais sexy do mundo, por uma revista americana. Outras denúncias não são tão engraçadas assim: jornais japoneses afirmam que a fome está levando os camponeses norte-coreanos a praticarem o canibalismo.
A RPDC, como Kim Jong-Un gosta de chamar o seu reino, mantém um comitê de solidariedade no Brasil, que promove exposições e viagens de brasileiros ao seu mundinho fechado. Da mesma forma, o partido Baath, de El-assad, o açougueiro sírio, mantém convênios com partidos comunistas, que por sua vez o apóiam. Originalmente, o partido sírio defendia o socialismo.
El-assad também é apoiado por Pútin. O antigo agente da KGB subiu favorecendo aos oligarcas russos e a última coisa que desejaria seria um regime socialista. A base naval que os russos mantêm na Síria e razões geopolíticas de grande potência são uma explicação mais plausível. Difícil é explicar a predileção de comunistas do mundo todo pelo novo autocrata, em detrimento de Ziugánov, dirigente comunista que é o eterno perdedor de eleições fraudadas.
Pútin por sua vez, retribui essa predileção financiando uma agência de notícias, a Russia Today, que transmite em língua inglesa noticiário favorável sobre o seu regime, junto com vagas denúncias antiiperialistas que abastecem blogs de esquerda.
A Inglaterra é um dos maiores destinos de inversões russas no exterior. Talvez, por isso, tenha feito vista grossa quando o exilado Litvinenko tomou um chazinho de polônio, na melhor tradição da Smersh dos romances de 007.
Outra fonte que costuma abastecer blogs de esquerda é a Telesur, venezuelana, também conhecida como telesurtada. Essa histeria ficou comprovada na “cobertura” que fez da revolta síria. Kadaffi, o suposto martir da luta antiimperialista, era um personagem tão grotesco quanto os Kim norte-coreanos (sua bizarrice incluia um harém de “enfermeiras” ucranianas e passava pela sua colaboração com a CIA, além de seu apoio às campanhas de Sarkozy e Berlusconi).
A Venezuela, com seu socialismo bolivariano, também sustenta uma rede de apoios e de interesses não tão desinteressados assim. Sem o seu petróleo, Cuba entraria em uma grave crise econômica. Dentro de suas limitações orçamentárias, Cuba patrocina a Prensa Latina e o Cuba Debate. Um de seus colaboradores é ... Tariq Ali.
Quando Lula esteve em Cuba, recentemente, um dos pontos de pauta foi a participação da Odebrecht nas obras do porto de Mariel. Além disso, a construtora está na ilha ensinando aos cubanos como gerir ... uma usina de açúcar.
Um ponto a ser observado  nessas viagens de nosso ex-presidente é que elas costumam ser ótimas ocasiões de negócio para Odebrecht, Andrade Gutierrez e outras grandes construtoras. Foi assim na Bolívia e, há pouco tempo, na Etiópia.
Na nossa América, Brasil e Venezuela costumam jogar no mesmo time: populismo unido jamais será vencido! Estamos deixando de lado os nossos interesses comerciais mais imediatos em nome de uma união política. Essa opção ficou muito nítida com a suspensão do Paraguai do Mercosur e a imediata entrada da Venezuela, que, por mera coincidência, era barrada pela oposição do senado paraguaio.
Em nosso país, os interesses políticos imediatos exigem uma série de acertos econômicos. Quem é a empreiteira que mais tocava obras da Copa? Ganhou um doce quem disse a Delta, de Cavendish e Cachoeira. Quem é que está querendo empurrar um porto parado para a Petrobrás? Ganhou um viagem ao Mali quem  disse Eike Batista, o amigo de Lula. Há muito tempo atrás, o PT descobriu que política se faz com votos e que votos custam dinheiro. 
A conseqüência, além da eleição de Lula, foi que a “governabilidade” levou à compra de uma base governista, que acabou custando caro.
Agro-negócio, barões da mídia, banqueiros, grandes construtoras, fundos de investimento, o grande capital foi muito bem durante os 10 anos de governos petistas. A própria Globo, símbolo maior da PIG, saiu de suas dificuldades econômicas e os herdeiros de Roberto Marinho voltaram ao ranking da Forbes. Para quem mesmo Lula deu sua primeira entrevista exclusiva após a eleição? Qual foi a emissora que Palocci escolheu para tentar explicar o puxadinho que tem em área nobre de São Paulo? Quem é que recebeu Dilma, antes da eleição, para um almoço e uma declaração explícita de apoio? Globo, Globo e a viúva de Roberto Marinho, são as respostas corretas.
Longe de mim defender uma teoria conspiratória e afirmar que por trás de todo ativista está o interesse financeiro. Grandes potências são movidas por várias considerações estratégicas. E grandes corporações sabem muito bem como casar essas opções com os seus negócios. Atrás da invasão americana do Iraque, vieram uma série de contratos para reconstruir o que havia sido destruído. Da mesma maneira, lobbistas sabem muito bem como unir seus negócios a projetos políticos, sem se preocuparem com a ideologia. Ambos convivem em relações complexas de simbiose, comensalismo e parasitismo, que, às vezes, se tornam conflituosas. Nos tempos de Nestor Kirchner, o Clarín era um aliado que passou a ser inimigo com Cristina. Hoje, Dilma se opõe a lei de meios, que tem um endereço certo, a Globo, antiga empregadora de Franklin Martins e Paulo Henrique Amorim. Sem falhar na Folha, onde trabalhava Luis Nassif.
A grande maioria de militantes está fora dessas jogadas e pensa apenas em um projeto político generoso. Sacrificam muitas vezes emprego e oportunidades de ascensão. Infelizmente, são atraídos por uma retórica maniqueísta que consegue unir debaixo do mesmo cobertor, Lula e Kim, El-assad e Chávez, Pútin e Raúl Castro, num sincretismo sem princípios, cuja única justificativa é um antiimperialismo e anticapitalismo extremamente vago, difuso e inconsistente.

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