Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

Consulte o dicionário do cinismo, no rodapé do blog.

Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

domingo, 30 de outubro de 2011

Quem escreveu este trecho?

Esta situação foi sensivelmente alterada com o fechamento do Partido (1947), a cassação dos mandatos parlamentares (1948) e o acirramento da guerra fria no final da década de 1940 e início da década de 1950. A política cultural do PCB se tornou cada vez mais estreita e sectária. O crescimento do sectarismo no campo cultural no Brasil coincidiu com o amplo predomínio das idéias de Jdanov na política cultural soviética. Tivemos, então, o afastamento gradual de inúmeros intelectuais e artistas brasileiros do campo de influência comunista. Entre eles estavam Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Érico Veríssimo, Otto Maria Carpeaux. Àlvaro Lins, Alceu Amoroso Lima.
Um dos momentos mais dramáticos do processo de cisão da intelectualidade brasileira ocorreu durante a eleição da Associação Brasileira de Escritores, ocorrida em março de 1949. Surgiram, pela primeira vez, duas chapas: uma apoiada pelos comunistas e outra pelos setores liberais-democráticos. Da chapa de oposição liberal participavam Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Afonso Arinos de Melo Franco, Otto Maria Carpeaux entre outros – a grande parte deles havia assinado o manifesto de 1947 e apoiado os candidatos comunistas. Os intelectuais chegaram a entrar em confronto físico pela ata da reunião. O próprio Carlos Drummond de Andrade foi agredido. Os comunistas ganharam a eleição, mas a organização se esvaziou, perdeu seu caráter unitário – de frente única cultural – e toda importância que teve nos anos anteriores.
Intelectuais paulistas não comunistas, como Antônio Cândido e Sérgio Milliet, passaram a ser taxados pela revista Fundamentos de “escória cultural da terra, em que pontificam tarados, renegados, lumpens e até mesmo alguns retardados mentais”.  Um artigo emblemático desta fase foi o de Osvaldo Peralva, intitulado “Os intelectuais que traíram o povo”, publicado na revista Paratodos. Sobre Carlos Drummond ele afirmou: “anticomunista raivoso, para quem a lealdade jamais constituiu uma pedra no meio do caminho”. O crítico comunista Emílio Carréra Guerra, referindo-se ao grande poeta, escreveu: “Essa doença que lhes faz ver tudo negro, num mundo de problemas e contradições sem saída, é próprio de sua gente, da classe podre, arcaica, degenerada e moribunda”.
Magoado com a atitude dos comunistas afirmou o poeta Manuel Bandeira: “Houve um tempo em que vi com bons olhos os nossos comunistas (...) O episódio da ABDE me abriu os olhos. Hoje sou insultado por eles ao mesmo tempo em que sou tido como comunista por muita gente”. Drummond escreveu em seu diário: “eles pouco entendiam o nosso ponto de vista (...) A idéia de uma associação de escritores livres, sem direção sectária, parece inconcebível para eles, que, em vez de convivência pacífica, preferem assumir o domínio pleno da organização”. A crise se agravou ainda mais em 1956, quando no XX° Congresso do PCUS Krushov apresentou seu relatório secreto denunciando os crimes de Stálin. Este teve um impacto devastador sobre parcelas da intelectualidade partidária. O próprio Jorge Amado escreveu no jornal Imprensa Popular: “Sinto a lama e o sangue em torno de mim”. Vários intelectuais abandonaram o Partido ou foram afastados.

Eu acredito em Saci Pererê





.A proposta é do Aldo Rebelo. Para quem acredita que as denúncias relativas ao Ministério do Esporte são uma farsa, é normal acreditar em Saci Pererê. Já o Waak, agente do imperialismo ianque, está querendo introduzir o culto ao Grande Abóbora. O Jabour, num ato de racismo, disse que, com uma perna só, este aí era mais fácil de derrubar. O Saci declarou que não vê nada de mais em ter uma ONG onde figura como professor de capoeira.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

BAZINGA!

Dilma para Orlando: “Você fica”

Por Blog do Miro

Do sítio Brasil 247: Por volta de 17h00, na linha a partir de Manaus, a presidente Dilma Rousseff telefonou ao ministro do Esporte, Orlando Silva, para informar-lhe que, do ponto de vista dela, a crise que abalou a permanência do ministro no governo está superada. “Você fica”, cravou Dilma, para alívio e satisfação do subordinado. A presidente registrou ter sido informada da ausência da voz do ministro nas 13 mídias que Dias entregou hoje à Polícia Federal, com diálogos dele com assessores do Ministério do Esporte. Como o policial militar prometera dar um “nocaute” no ministro, mas não conseguiu apresentar sequer uma palavra dele de participação direta no suposto esquema de corrupção, a presidente concluiu que Orlando Silva é,
neste momento, muito mais vítima do que suspeito de uma situação.O telefonema da presidente foi interpretado nos meios políticos de Brasília, entre os quais a informação da ligação circulou, como um ponto final na crise. Além do alívio frente a tibieza das novas denúncias, contou também a posição do ex-presidente Luiz Inácio do Lula da Silva, contrário à demissão do ministro.Quase ao mesmo tempo em que recebeu a garantia da presidente de que continuará no cargo, o ministro do Esporte determinou a abertura de uma sindicância interna para apurar o conteúdo das denúncias de João Dias.

sábado, 22 de outubro de 2011

A novela da vida real

A novela da queda de um ministro tem uma liturgia. Ela envolve um roteiro geral, alguns personagens e núcleos que não variam muito. O final, todos já conhecem. 
A proposta de fazer uma novela no Ministério do Esporte apresenta alguns ingredientes novos, que podem elevar a audiência: primeira mulher presidente, Copa do Mundo à vista e um protagonista pouco conhecido, mas promissor, o PC do B.
O piloto foi a matéria de capa da Veja. A reportagem do Fantástico ampliou a audiência. Em seguida, houve um anticlímax, com o depoimento do Ministro na Câmara e a decisão da Presidente de mantê-lo. O que parecia ser um especial virou mini-série, podendo chegar à novela.
Há conflitos latentes e núcleos que ainda não apareceram para o grande público. Um exemplo é a briga PT x PC do B, concentrada no Distrito Federal. Agnello, por enquanto, tem sido coadjuvante. Sempre em viagem, sempre se esquivando. A trama começa no seu mandato como Ministro do Esporte do governo Lula. É aí que ele conhece João Dias Ferreira. Orlando Silva é seu secretário executivo. Agnello atualmente é do PT e foi eleito governador do Distrito Federal. Este núcleo fatalmente ganhará destaque nos próximos capítulos. Há muito ressentimento há ser explorado.
Outro núcleo que ganhará destaque é o próprio PC do B. O público está acostumado com partidos inorgânicos, dominados por clãs, em que o fogo amigo de um pode derrubar o outro. Pelo menos externamente, o PC do B age em bloco. Ele bancou seu ministro e se recusa a ser o vilão da história. Há uma cena, que o público não verá, em que a presidente perde o cargo e o ministro responde:
- o partido decidiu que eu só saio demitido e que Vossa Excelência terá que assumir o desgaste de admitir que a presunção da inocência é mero discurso.
- Neste caso, você está por sua própria conta. Não fui eu que o escolhi, não fui eu que escolhi o Agnello, o desgaste não será meu. Daqui para frente, eu e a Gleici assumimos as negociações da Copa, enquanto você tenta quebrar o recorde de permanência do Palocci.
Se eu fosse roteirista, este seria o diálogo. Acho que a direção cortaria. Novela não pode chegar tão próximo da vida real.
Estes seriam os primeiros capítulos. Toda boa novela improvisa a partir da aí, baseada nas pesquisas de audiência. Até agora, a maioria da população brasileira não está informada sobre a crise. Quem trabalha não lê a Veja, não assiste o Fantástico até tarde e não está ligando muito para política. A audiência nas classes D e E está muito baixa.
O que poderia alavancar  a novela para este público seria a tradicional cena do dólar na cueca, da montanha de dinheiro ou da mansão suntuosa. Para as externas, os roteiristas só dispõem de um sítio no meio do mato e de uma garagem. Com o contra-regra, até agora, só uma caixa de sapatos cheia de dinheiro. Não promete muito.
Os escritores sabem que uma trama muito abstrata perde audiência rapidamente. Vilão que se preze rouba para gastar com mulheres, carrões e mansões, não necessariamente nesta mesma ordem. Dinheiro desviado para comprar governabilidade, para garantir projetos de poder, para fazer caixa dois de partidos, não têm apelo popular.
Há uma gravação que promete, se o original aparecer. A cena dos dois bonequinhos, com a transcrição em baixo e aquelas faixas de freqüência subindo e descendo é um clássico. Uma alternativa, se a trama não puder ganhar profundidade, é investir na extensão. Existe material antigo no departamento de pesquisa sobre o PC do B, envolvendo a ANP e as diversas ONG espalhadas pelo país. Pode respingar em muitas candidaturas e campanhas municipais e ajuda a criar o clima de corrupção difusa.
Um núcleo que poderia amarrar muitas pontas seria o da antiga UNE. Por lá passaram várias lideranças do PC do B, o próprio ministro, sua mulher, e grande parte dos seus assessores. O elenco sofre limitações, porque alguns ex-militantes e ex-diretores da UNE se recusam a entrar nesta novela. Preferem ficar de fora, fazendo a crítica da dramaturgia palaciana.
Outro drama a ser explorada é o dilema shakespeariano da presidente. Ser ou não ser. Empunhar a vassoura e fazer a faxina? Ignorar a pecha de ingratidão filial e dizimar a cota pessoal do monarca que a nomeou sua sucessora? Ou sucumbir na mesmice da governabilidade, arrostando as flechas da imprensa inimiga?
Os roteiristas sabem que o gancho que garante audiência é a Copa. A presidente, a FIFA e a CBF são rivais. Há uma briga surda, que poderia ser mais explorada. O ministro e o antigo monarca se entendiam bem com os cartolas. A presidente não. O pobre ministro virou um joguete entre estas duas forças. Obrigado a adotar o discurso da presidente, sofreu o desdém da FIFA, que já o descartou como interlocutor. Esta técnica chama-se bater na cangalha para o burro entender. Do outro lado da cangalha, o burro retrucou. A presidente assumiu as rédeas da negociação. Uma das razões para manter o seu ministro é justamente esta, a de não ser pautada pelo adversário.
Como sempre, o público escolherá o final. Toda grande novela tem um elenco de escritores e não há como ignorar os roteiristas do PC do B. Eles estão escrevendo os capítulos sobre o PM. Este núcleo promete. Há uma antiga investigação da polícia, com direito a morte de agentes infiltrados e ameaças. O nome tem apelo: Operação Shaolin. Pode levar a uma reviravolta na trama, jogando o peso da culpa no esquivo Agnello. Pode também ser o estopim de um conflito maior.
O capítulo final pode ser a cena clássica, com direito a discurso de despedida emocionado de um lado e agradecimentos protocolares do outro. O formato ainda não está decidido: minisérie ou novela. Tudo depende da novela da vida real. De repente, um escândalo abafa o outro e a ciranda recomeça. Os roteiristas da Veja, costumam ser precavidos e só propõe uma nova trama quando têm assunto para pelo menos umas quatro edições.  Aguardemos.