Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

Consulte o dicionário do cinismo, no rodapé do blog.

Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

domingo, 19 de dezembro de 2010

A chacina da Lapa - dezembro de 76

No Brasil de Geisel ainda se tortura e se mata

"Comunico-lhe que o seu PCdoB acabou". Esta frase dita por um policial-torturador ao dirigente comunista Haroldo Lima um dia após a sua prisão mostra bem o nível de arrogância dos agentes da ditadura militar. Os fatos, porém, pareciam confirmar aquele trágico anúncio. Um jornal do dia 17 de dezembro, ecoando a opinião do regime discricionário, também estampava: "O PCdoB foi destruído". Esta não seria a primeira vez que frases como estas seriam pronunciadas e impressas com destaque na grande imprensa. 

No dia anterior, 16 de dezembro, numa verdadeira operação de guerra, os órgãos de segurança haviam invadido uma casa modesta - localizada na Rua Pio XI, nº. 767 no bairro da Lapa em São Paulo - e assassinado friamente dois dos mais importantes dirigentes comunistas brasileiros: Pedro Pomar e Ângelo Arroyo. Poucas horas antes outro dirigente, João Batista Drummond, havia sido morto durante uma sessão de tortura no DOI-CODI paulista. A versão mentirosa da ditadura foi que Ângelo e Pedro haviam resistido à prisão e que João Batista havia sido atropelado ao tentar fugir da polícia. Este foi o último massacre de militantes de organizações da esquerda que combatiam a ditadura. "

Trecho de um artigo de Augusto Buonicore, publicado no site do Instituto Maurício Grabois.

Eu estive nesta sala, em reuniões com membros do Comitê Central do PC do B, no início dos anos 70. Na época era da diretoria da UNE, gestão Honestino Guimarães. Os corpos são de Pomar e Arroyo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Posse na Academia de Letras de Teófilo Otoni - ALTO


Na foto, a Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, Amenaide Bandeira Rodrigues faz a entrega do diploma de membro correspondente.
Abaixo, reproduzo meu discurso, muito aplaudido, principalmente no seu início: "Serei breve."


Senhora Presidente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, demais membros da mesa, convidados, senhoras e senhores presentes,

Serei breve. Não fugirei do protocolo que me pede para sê-lo. Desde já, de maneira alguma, esse chamado à concisão me desagrada. Não se é físico impunemente. Foi antes um alívio, saber que teria que me concentrar no que realmente importa. Escolhi fazer uma síntese do que representou para mim essa convocação.
 Assim que recebi o convite para me tornar membro correspondente dessa Academia, foi inevitável pensar que estaria sucedendo ao meu amigo Luiz Paulo Lírio de Araújo. Uma leitura conscienciosa de seus estatutos convenceu-me de que não há uma cadeira permanente de membro correspondente. Não bastasse essa razão, além de mim, foram convocados outros escritores com o mesmo direito a reivindicar esse título inexistente; alguns até com um maior tempo de convivência com esse grande escritor. Mas a sensação inicial persiste.
Eu e Luiz estávamos ligados por dois laços muito fortes. Um que remonta a nossa juventude, aos tempos de estudantes do Estadual Central. Pertencemos a uma geração privilegiada do ponto de vista histórico: éramos adolescentes em 64, amadurecemos com o AI-5 e nos tornamos adultos nos anos de chumbo. 
Essa vivência trouxe ao nosso trabalho de escritor algumas características em comum: a irreverência, a rebeldia e a preocupação com as causas sociais. Marcas de uma geração que teve Dilma e Henfil, para citar apenas dois dos mais ilustres ex-estudantes do Estadual.
Outro laço, mais recente, veio da luta na frente cultural. Uma grande amiga em comum, Clevane Pessoa, que eu acabara de conhecer, nos aproximou novamente. Nossa trincheira, durante certo tempo, foi a Revista Estalo, onde, pela primeira vez, fui publicado.
Luta árdua, que, às vezes, nos lembrava os tempos da ditadura. Sentíamo-nos como que acendendo velas na escuridão.  Luiz encarava o ofício de escrever como um chamado. Eu era mais cético. “Use menos o lirismo e mais a paulada, dizia-lhe. Estamos num país de analfabetos funcionais. Poupe suas energias.” Ele dava sua risada inconfundível e seguia em frente. Lembro-me, ainda agora, o orgulho e a alegria com que tomou posse na Academia de Letras de Teófilo Otoni.
Meu amigo não poupou energias. Nem tempo, nem dinheiro e nem saúde. Batalhou até o último instante, literalmente. Revejo-o no hospital, com o laptop no colo, comentando o que seria o seu próximo conto, calcado nas peripécias de seu internamento em Aracaju.
Sua morte prematura foi um catalisador. Avivou chamas, despertou ânimos, encorajou vocações latentes. Nesse sentido, somos todos, um pouco, seus sucessores. Temos o mesmo compromisso. E é esse compromisso que me trouxe hoje, até esta casa. Muito obrigado.