Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

sábado, 29 de maio de 2010

A guerrilha, uma amostra do partido



Capítulo 7 – A guerrilha, uma amostra do partido

Em conversas iniciais com alguns militantes antigos, obtive uma avaliação do efetivo total do PC do B à época do Araguaia - seria de no máximo uns 5.000 militantes. Segundo Elio, o teto máximo seria de 2.000. Esse último nos pareceu mais realista. Nesse caso, os 70 militantes que se dirigiram para o Araguaia representariam, no mínimo, 3,5% do total de militantes. Estatisticamente, é uma amostra significativa, que, se analisada criteriosamente, pode dizer muito sobre o tamanho e a composição do partido no início da guerrilha.
Em xadrez, existem problemas que usam a chamada análise reversa: dada a posição final, deve-se determinar a posição inicial. Nós faremos algo semelhante: tentaremos traçar um perfil do PC do B a partir da guerrilha.
Fizemos uma tabulação da origem dos militantes (movimento estudantil, bancário, profissional liberal, movimento operário, movimentos populares, dirigente e outros); do estado onde atuavam, quando foram enviados para o Araguaia e do seu tempo de militância e da sua idade. São dados aproximados, mas suficientes para embasar as nossas conclusões.
Para o destacamento A, essa era a origem dos militantes (como origem entendemos o estado em que ele militava).

Para o destacamento B, essa era a composição:
 Finalmente, para o C:
 Consolidando os três destacamentos teremos:

Colocamos como outros, os militantes que atuavam na direção, ou cuja localização não foi possível determinar. Em 69, quando o PC do B lança o chamamento à revolucionarização do partido, a remessa de quadros para o Araguaia se intensificou. Todos os comitês Regionais se empenham na tarefa de selecionar quadros para o trabalho no campo. Segundo Elio, antes de 72, no Espírito Santo, não haveria mais do que uns vinte militantes. Destes, dois serão enviados para o Araguaia. Em Minas, num universo de no máximo cinqüenta militantes, seis serão enviados, o que indica uma proporção aproximada de 1 selecionado para cada 10 militantes.
Aqui se faz necessário estudar a composição por setor de atuação dos militantes enviados. Nós consolidamos os dados dos três destacamentos, já que as variações entre eles não são significativas. Como outros, entendemos os quadros de direção, ou aqueles que cuja área de atuação é impossível determinar.



 

O peso dos estudantes (universitários e secundaristas) é grande, chega a aproximadamente 66%, 2/3 do total. Em Minas, o autor calcula que o partido chegou a um máximo de 30 militantes no movimento estudantil, o que indicaria um total máximo de 45 militantes.  Para maior certeza de nossa estimativa, arredondamos esse total para 50.
Em 71, o partido elegeu 6 militantes para a diretoria da UNE, num total de 11. Cada um provinha de um estado diferente: Minas, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia,  Rio e Ceará.
Combinando essas informações, é razoável afirmar que o PC do B teria um trabalho significativo nesses 6 estados e algumas bases, talvez alguns contatos, nos outros estados. Se houvesse uma estrutura maior, ela, provavelmente, estaria representada no Araguaia. A cisão da Ala Vermelha ficou com as estruturas partidárias do Distrito Federal e de Goiás, a exceção dos militantes bem antigos, como Michéias e Divino. Em Pernambuco, outro estado com grande peso político, os militantes aderiram ao PCR[1]. Embora Amazonas e Pomar fossem do norte do país, eles haviam ficado tanto tempo fora que não conseguiram reconstruir o PC do B nessa região.
No caso de Minas e do Espírito Santo, estruturas pequenas, vimos que a relação entre militantes do partido e militantes enviados para a Guerrilha era de 10 para 1. Os outros estados, que contribuíram com mais guerrilheiros, certamente tinham um número maior de militantes.  Supondo um efeito de escala, ou seja, que uma estrutura maior tem mais facilidade de recrutar novos militantes, crescendo muito mais rápido do que uma estrutura pequena, usamos um fator de multiplicação de 20, para cada militante representado no Araguaia. Isso nos levaria a uma estimativa de uns 500 militantes no Rio, 200 em São Paulo, Ceará e Bahia, 50 em Minas e no Rio Grande do Sul e 20 no Espírito Santo - 1320, no total. O teto máximo de 2.000 militantes parece ser muito conservador.
Em entrevistas posteriores com outros militantes do PC do B na época, reduzimos o número de militantes no Ceará para uns 80, uma indicação de que o número total talvez fosse menor que 1.000.[2] Essas novas estimativas reforçam ainda mais a noção de que podemos tomar os destacamentos como uma amostra muito significativa da composição do PC do B.


[1] Cisão do PC do B. Até hoje se proclama adepta do maoismo.
[2] Em recente artigo sobre o Araguaia, Buonicore afirma que o PC do B não chegou a deslocar 20% dos seus efetivos para a guerrilha. Essa porcentagem significa que o número total de militantes estaria entre 400 a 500!







quarta-feira, 26 de maio de 2010

Retomada do blog

Por motivo de força maior (firewall nos computadores da receita e pane total do meu Oi Velox) estivemos fora do ar. A partir de agora, voltamos ao ritmo normal. Desculpem a nossa falha.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A decisão do Supremo sobre a Lei de Anistia



Segundo as manchetes:” Supremo rejeita mudança na Lei de Anistia”. O assunto é chato para a maioria da população brasileira, mas merece alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, ninguém pediu que se alterasse a Lei e nem o Supremo tem o poder de fazê-lo. O que a OAB pretendia é que se reconhecesse que a tortura não é crime político e muito menos conexo.
Alguns ministros, justificando seu voto, disseram que o entendimento que incluía os torturadores na Anistia foi fruto de um acordo político. É verdade. A tortura era crime, mesmo durante o regime militar, que nunca admitiu oficialmente a sua utilização. No texto da Lei da anistia, não está dito em lugar algum que quem torturou presos políticos estava anistiado. Como não se podia fazer menção explícita à tortura, houve um acordo tácito entre as diversas forças que avalizaram a anistia para livrar os torturadores de punição.
Sempre é oportuno relembrar as circunstâncias da anistia. Ela coexistiu durante muito tempo com um punhado de leis de exceção. Entre 79 e 84, o regime militar montou uma saída organizada. As eleições indiretas de 84 opuseram Tancredo e Maluf. Um conciliador, que tinha como vice Sarney, homem saído da Arena e Maluf, um quadro da ditadura.
Essas circunstâncias, durante muito tempo, serviram de pretexto para deter o que se chamava de revanchismo – a apuração dos crimes do regime militar. Era o medo do retrocesso. Os anistiados têm nome, têm um passado, foram declarados legalmente como tais. Há um ato oficial que reconhece e restabelece os seus direitos. Os torturadores que teriam sido beneficiados continuam na sombra. Quando um deles é exposto, como foi o caso de Brilhante Ustra, negam que tenham torturado, dizem-se caluniados.
Fica a questão: os tempos mudaram, a guerra fria acabou, os militares estão nos quartéis e a melhor doutrina considera que a tortura é crime imprescritível contra a humanidade. Citarei um exemplo recente: os acordos de paz que puseram fim à guerra na antiga Iugoslávia não impediram que o Tribunal de Haia julgasse Milosevic. Por que então o STF deveria validar um acordo feito em condições desiguais entre o regime militar e a oposição consentida?
A decisão do Supremo é um primor de incoerência. Para não insultar ainda mais a memória dos que foram assassinados, reconhece o direito de se apurar os crimes cometidos. A família pode saber quem é o assassino. Só não pode pedir a sua punição. A tese de que anistia seria o esquecimento total, algo como deixar em branco páginas da nossa história, foi derrubada. Não se pode considerar que esse seja um avanço. Mesmo sem as bençãos do Supremo, Amelinha Telles e Criméia já haviam recorrido à justiça, que reconheceu Brilhante Ustra como torturador.
A explicação    para uma decisão tão lamentável é simples: faltou o clamor das ruas. Os ministros do Supremo não se sentiram pressionados. A mobilização popular que lutou pela anistia, que foi às ruas pelas diretas e pelo impeachment já se perdeu há muito tempo. Deletar os e-mails que enchem sua caixa de correio eletrônico é fácil. Ignorar dezenas e centenas de milhares de manifestantes é muito difícil. Nesse sentido é lamentável a omissão e ou a inércia dos sindicatos, das centrais sindicais, da UNE, dos dois principais candidatos, eles próprios vítimas da repressão, e de tantos outros.

A festa da massa




A massa comemorando na Praça Sete. As fotos são do Estado de Minas.

Tardelli incentivando a reciclagem de materiais. As marias deveriam pensar ecologicamente sobre o destino que terão as milhares de flanelinhas que elas compraram. Não pensaram no verde (Ipatinga) e foram castigadas.



O manto sagrado virou bandeira nas mãos do nosso ídolo. OLÊ MARQUES!