Escrito nos raros momentos de folga de uma jornada fatigante.

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Divulgação literária e outros babados fortes

Versos cretinos, crônicas escrotas e contos requentados. O resto é pura prosa.

domingo, 5 de agosto de 2012

Sai daí, Zé!


Demissão



“Sai daí, Zé.” Roberto Jefferson


Oh! ave canora, de vistosa plumagem,
Vós que n’assembléia de pássaros reunida,
Abristes o bico, na frondosa ramagem.
Canta, a ira funesta do corrupião,
Oh deusa! Que derribou o tié-sangue,
Inda deixou exangue ao quero-quero
Trouxe a negra corrupção, de ágeis dedos,
Ávida boca, ontem era amor sincero,
De tantos picaretas, hoje atiça medos
Boquiabertos, boquirrotos, esfarrapados
Uns, outros rotos, se acusam, se escusam
Medrosos se entreolham, querem culpados
Querem o sangue do bode expiatório,
Às piranhas sedentas, untuosa novilha
Em troca da manada. Neste parlatório,
Nesta babel de vozes, um coaxar se ouve


O que é que é?
O que é que houve?
De nada sei
Pergunte ao Zé

E o corvo, ave de mau agouro
De negras penas ornamentado,
Responde ao molusco invertebrado
Nunca mais! Nunca mais!
Nem se de ouro fosses pintado.

O Partido do Tiê, esbaforido, tenta um solo
Sou ético, tenho um projeto, comigo a história
Nega o crime, acusa o golpe – Não houve dolo.

Tenho limpas as mãos, mágoas não trago,
Volto à planície, deixo o planalto
Eterno exilado, hoje soldado, ontem no areópago.

Canto triste, logo abafado,
Por uma araponga descontrolada
Você roubou, é safado!
Seu terrorista desalmado!

Num canto, o João-de-Barro
A tudo assiste, cabisbaixo.
Inda escuta, do tucano, o sarro
Lá vem a Esperança, sai de baixo!